Brasília terá complexo de R$ 700 mi
A concessionária, pertencente à multinacional argentina Corporación América, deve anunciar nesta segunda-feira que chegou a acordos com outros parceiros privados para erguer três empreendimentos de grande porte na zona aeroportuária: um shopping center do grupo Partage, um centro de logística da Log Commercial Properties e um complexo de entretenimento com parques temáticos (os acionistas são mantidos em sigilo).
No total, esses projetos vão receber investimentos de R$ 700 milhões e gerar 3.500 empregos diretos ou indiretos, segundo a Inframérica. As obras começam ainda neste semestre. Elas devem ficar prontas, gradualmente, entre o fim de 2023 e o começo de 2024. Todas as intervenções já têm licença ambiental do Ibram (órgão do Distrito Federal) e aval para uso e ocupação do solo, bem como concordância do Ministério da Infraestrutura e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“O nosso projeto para o sítio é aeroportuário é ainda mais amplo, mas esses três primeiros empreendimentos são âncoras do que vem pela frente”, diz o vice-presidente da Inframérica, Juan Horacio Djedjeian. Segundo ele, também estão previstos um hotel quatro estrelas e centro de convenções com capacidade para 7 mil pessoas, além de um centro cultural que poderá expor 12 mil obras de arte. Há entendimentos avançados com donos de coleções privadas e falta apenas definir como será a nova edificação.
Tudo indica que o desenvolvimento imobiliário em torno do aeroporto de Brasília se tornará o maior projeto do gênero entre todos os terminais já concedidos pelo governo federal à iniciativa privada. Um plano ousado estava nos planos de Viracopos (SP), mas o aeroporto está sendo devolvido amigavelmente pela atual concessionária à União, que está organizando sua relicitação.
Para viabilizar o projeto, foi preciso contornar um gargalo existente nas regras dos primeiros aeroportos privatizados no país, incluindo o de Brasília. Pelos termos originais, qualquer contrato de exploração comercial só poderia ter validade até o fim da concessão do aeroporto.
Aeroporto de Brasília receberá, neste momento, um shopping center, um centro de logística e uma área de entretenimento — Foto: Divulgação
No caso da Inframérica, o prazo era 2037. Isso significava que eventuais parceiros para a construção de hotéis, shopping centers ou centros de eventos tinham um horizonte relativamente curto para o retorno de seus investimentos. A Lei 13.448 modificou esse dispositivo e permitiu que os “empreendimentos acessórios” pudessem se estender por mais tempo, dando previsibilidade para os investidores e abrindo oportunidades para as concessionárias dos aeroportos.
Graças a uma portaria do Ministério da Infraestrutura, os contratos da Inframérica com seus novos parceiros comerciais valerão até 2067 e serão automaticamente herdados pelo titular da próxima concessão. Os investidores têm a garantia de que ficarão ali por no mínimo 45 anos.
O governo ganha de duas formas. Primeiro, porque todas as edificações e benfeitorias são considerados bens reversíveis - isto é, voltam ou são incorporados ao patrimônio da União ao fim da concessão do aeroporto.
Segundo, porque o contrato de Brasília prevê uma outorga variável de 2% da receita bruta da concessionária todos os anos. Ou seja, se o faturamento dela cresce por causa de novas receitas imobiliárias ou comerciais, a fatia paga ao governo aumenta também.
O secretário nacional de Aviação Civil, Ronei Glanzmann, adiciona um terceiro ganho: Brasília é um dos quatro aeroportos em que a Infraero detém 49% de fatia acionária e essa participação se valoriza com os novos negócios.
“Esse tipo de iniciativa está totalmente alinhada com as nossas políticas públicas”, afirma Glanzmann. “São investimentos que geram emprego e renda, dão mais opções para os passageiros e para os moradores da cidade, melhoram a qualidade dos serviços prestados pelo aeroporto.”
O diretor comercial da Inframérica, Ian Joels, explica que o novo complexo em torno do aeroporto será interligado e “funcionará como uma coisa só” para o usuário. Embora seja totalmente acessível aos passageiros, o objetivo é não ficar limitado a eles e atrair o morador do Distrito Federal, de forma independente. “É um projeto que atende aos usuários do aeroporto, mas não depende exclusivamente deles”, diz.
O shopping do grupo Partage - que já tem outros dez empreendimentos do tipo no país - terá 60 mil m2 de área construída. Serão 130 lojas, 11 restaurantes e sete salas de cinema, em um conceito “open mall”, com espaços abertos e varandas sombreadas.
O complexo de entretenimento terá três parques temáticos “indoors” - um para cada faixa etária -, um em cada pavimento, em área de aproximadamente 30 mil m2.
Finalmente, o centro logístico ficará em um terreno de 120 mil m2 e contará com área locável de 66 mil m2. Com o crescimento do e-commerce, a ideia é que sua presença permita agilizar a entrega de encomendas expressas no Distrito Federal e imediações. A Log CP, do grupo MRV, vai construir e administrar os galpões logísticos - com a possibilidade de alugar a estrutura para terceiros.
Aproveitando a vegetação nativa do local, um parque será urbanizado e aberto ao público logo atrás do futuro shopping center, oferecendo opção de lazer.
Ainda com movimentação de passageiros 20% inferior ao nível pré-pandemia, mas em recuperação sustentada, a Inframérica quer aproveitar o “hub” em que se transformou Brasília para atrair outros empreendimentos, como o centro de convenções. O aeroporto terminou o ano passado como o segundo maior do país, atrás de Guarulhos (SP), e é o único com voos diretos para todas as capitais brasileiras.
Fonte:
https://valor.globo.com/empresas/not...r-700-mi.ghtml