Temperatura média anual do DF sobe 1,95ºC em 50 anos, diz pesquisa
Meteorologista do Inmet cruzou dados de medições entre 1961 e 2011 Tendência é de aumento de 2ºC a 4ºC na capital federal até 2040, diz Inpe.
Foto: Vianey Bentes/TV Globo
Sol forte sobre o Distrito Federal
Um estudo com base em dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostrou o que a população do Distrito Federal tem sentido na pele. A temperatura média anual na capital subiu 1,95ºC nos últimos 50 anos: de 20,6ºC para 22,55ºC.
Os dados fazem parte da pesquisa de mestrado da meteorologista Morgana Almeida, no Inmet. De acordo com o estudo, até mesmo nos dias mais frios, a temperatura média aumentou 2,05ºC entre 1961, quando começaram as medições, e 2011. A distância entre as temperaturas mínimas e máximas diminuiu.
“Vários fatores contribuem para este aumento, mas fica claro que as interferências do homem influenciam esse processo. Podemos citar a emissão de CO2 na atmosfera e a expansão urbana” afirma Morgana.
A projeção é de que temperatura suba de 2ºC a 4ºC até 2040. A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Chou Sin Chan afirma que os impactos do aquecimento global serão maiores no Centro-Oeste.
“Os resultados das nossas análises mostram que a região central é a que terá o maior aumento na temperatura. Isso vai acontecer por causa da diminuição nos níveis de chuva e da nebulosidade, que já vêm sendo observada nos últimos anos.”
Foto: Corpo de Bombeiros-DF/Divulgação
Fogo em área da Floresta Nacional de Brasília
A previsão é feita a partir de informações coletadas desde 1960 e leva em conta dados como temperatura do mar, condições atmosféricas e emissão de gases do efeito estufa. Chou diz que o aumento da temperatura pode ser bem maior do que o esperado, já que as emissões de CO2 na atmosfera têm crescido mais rápido do que o esperado.
“A temperatura só não vai subir se houver uma mudança muito grande. É preciso que todos os setores coloquem em suas ações [medidas] para diminuir as mudanças climáticas. Além disso, Brasília precisa se preparar para lidar com os impactos, e essa responsabilidade inicia com o governo.”
A pesquisadora afirma que em 2014 a zona de convergência do Atlântico sul, que é responsável pelas nuvens de chuva na região central do país, quase não se formou, o que fez como que o DF tivesse um dos verões mais quentes já registrados.
A tendência de muito calor e pouca chuva continuou em 2015 e a temperatura no DF chegou a 35,8º, igualando o recorde de calor de toda a história da capital. O mesmo índice só havia sido registrado uma vez, em 2008.
De acordo com o Inmet, a região registou a terceira seca mais quente desde 1961. A média da temperatura para os meses de junho, julho e agosto é de 25,9ºC. Neste ano, o índice nos três meses ficou em 27,2ºC.
Foto: Michele Mendes/G1
Termômetro na W3 Norte registar temperatura de
40º
'Umbigo da região'
A assessora especial do Clima da Secretaria de Meio Ambiente do DF, Leila Soraya Menezes, acompanha as pesquisas do Inpe e diz que o DF está “bem no umbigo” da região que mais deve sofrer com as ondas de calor e a diminuição da chuva.
Segundo a assessora, o aumento na temperatura tem um efeito direto em setores como agricultura, produção de energia e acesso a água potável. “Em geral, no período da seca, o consumo de água tem ficado cada vez mais perto da demanda, e em algumas regiões chega a ter alguma escassez e isso tende a aumentar com as mudanças climáticas.”
“Nossa vocação para seca vai se intensificar e os períodos de chuva serão cada vez menores, mas mais intensos, como o que aconteceu no verão do ano passado.”
Leila afirma que hoje o GDF não está preparado para lidar com essas mudanças, mas que tem feito ações para tentar frear o aumento da temperatura, como a recuperação de mananciais. O governo também tem buscado tecnologias para redução de CO2.
Um inventário encomendado pelo GDF, ainda está em fase de conclusão, mostra que o DF tem quatro principais fontes de emissão de gases do efeito estufa. Veículos são responsáveis por 50%, fábricas de cimento, por 16%, e o lixão da Estrutural, 14%. O restante vem de alterações do uso do solo, como queimadas e incêndios florestais.
A assessora afirma que está em fase de construção um plano de “mitigação às mudanças climáticas para o DF”. O projeto vai orientar o governo a destinar parte dos recursos para investimentos em ações de prevenção e adaptação aos efeitos do aumento da temperatura. A previsão é que o programa vá para consulta pública no começa de 2017.
http://g1.globo.com/distrito-federal...-pesquisa.html