Rede Jarjour diz ter sido cortejada pelo cartel, mas nega envolvimento no esquema
Ministério Público investiga se a rede que tradicionalmente cobra mais barato pelos combustíveis no DF fazia ou não parte do cartel. Proprietário da empresa diz que foi procurado "n" vezes, mas nunca aceitou qualquer tipo de acordo
Foto: Sheyla Leal/ObritoNews/Fato Online
Proprietário da Rede Jarjour nega acordo com cartel de combustível que atua no DF
O proprietário da Rede Jarjour, Abdalla Jarjour, afirmou com exclusividade ao Fato Online ter sido procurado diversas vezes pelos representantes do setor de combustíveis acusados de liderarem o cartel atuante na capital do país desde, pelo menos, 1994. A intenção dessas aproximações era uma insistente tentativa de “fechar acordo”, nunca aceita, segundo ele.
Na semana passada, a Operação Dubai golpeou o esquema de combinação de preços no mercado de combustíveis do Distrito Federal. Sete pessoas foram presas, incluindo um dos sócios da Rede Cascol, Antônio Matias, e o presidente do sindicato da categoria, José Carlos Ulhôa. Os apontados como principais peças do cartel foram soltos no fim de semana, mas não podem voltar a exercer suas funções, entre outras restrições impostas pela Justiça.
“Eu lido com esse pessoal há muitos anos. Sou uma pedra no calcanhar deles já faz tempo. Eles tentaram ‘n’ vezes que eu aderisse à composição deles”, disparou Abdalla. “Conheço esses caras todos, claro que conheço, não vou mentir. Mas sempre fui independente”, emendou.
A Rede Jarjour tem três postos: na Asa Norte, na Asa Sul e em Taguatinga. A marca fez fama por enaltecer com uma propaganda agressiva o fato de cobrar pelos combustíveis um pouco abaixo da média praticada no mercado do DF.
Investigação
As declarações de Abdalla Jarjour surgem após integrantes da força-tarefa que envolve Polícia Federal, MPDFT (Ministério Público do DF e Territórios) e Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) informarem que a Rede Jarjour está entre as investigadas nesta fase pós-operação.
“O que estou falando agora vou repetir quando me procurarem. O Ministério Público, a Polícia Federal, todo mundo que quiser aparecer aqui será muito bem-vindo. Estou tranquilo, não tenho o que esconder”, afirmou o proprietário da rede.
Abadalla contou que, há cerca de 10 anos, um episódio ilustrou bem a força de quem, nas palavras dele, sempre comandou o mercado em Brasília. Antônio Matias, sócio da Cascol – a maior rede, com 92 postos em todo o DF – o convidou para um café. No encontro, ainda de acordo com ele, teria perguntado quando a Jarjour “passaria a combinar”. Abdalla teria levantado a voz e soltado vários xingamentos, antes de se retirar do ambiente. “Disse mesmo: ‘Você é um filho da p... (sic)! Tá achando que vai me impor sua condição? Não tem acordo comigo’”, pontuou Abdalla.
A conversa relatada pelo proprietário da Jarjour teria ocorrido no gabinete de Matias, na época em que a rede de combustíveis mais baratos inaugurou o posto da Asa Norte.
Foto: Sheyla Leal/ObritoNews/Fato Online
MPDFT vai investigar participação da Rede Jarjour no cartel
"Jogo de cena"
Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), responsáveis no MPDFT pelas investigações sobre o cartel de combustíveis, trabalham com a hipótese de a Rede Jarjour também integrar o esquema desbaratado na semana passada. Os valores mais em conta seriam parte, na verdade, de um "jogo de cena".
Com base na apuração dos promotores, em junho deste ano, durante o IV Encontro dos Revendedores de Combustíveis do Centro-Oeste, realizado em um hotel em Brasília, o presidente do sindicato da categoria, José Carlos Ulhôa, cobrou de representantes do mercado local firmeza no cumprimento dos acordos de preços, principalmente em relação às redes menores e aos postos de bandeira branca (sem distribuidora oficial). No entanto, Ulhôa fazia questão de deixar claro: “Mas ninguém mexe com o Jarjour”. Essa recomendação do chefe do sindicato era algo recorrente, apontam as investigações.
"Estamos investigando, mas a Rede Jarjour parece que tinha uma função muito bem definida em todo esse esquema. O certo é que não havia inimizade alguma entre essa rede e os líderes do cartel”, comentou um dos integrantes da força-tarefa da Operação Dubai.
Outras redes
Após acreditar ter identificado as lideranças do cartel, a força-tarefa formada por MPDFT, Cade e Polícia Federal agora se concentra em chegar a outros participantes do esquema de combinação de preços na Capital Federal. As redes Auto Shopping, que tem 14 postos, e o Posto São Roque, na BR-020, aparecem na lista dos que serão investigados. Os representantes de ambas as empresas não foram localizados pela reportagem até o fechamento deste texto.
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