Retração do mercado penaliza especulador
Autor(es): DIEGO AMORIM
Correio Braziliense - 01/09/2013
Queda na procura impõe perdas de até 30% a quem comprou casas e apartamentos com a intenção de revender o ágio e obter lucro a curto prazo. Para construtoras, o setor sairá fortalecido depois de passar por um período de ajuste
O mercado imobiliário vive um embaraço intensificado pelo endividamento recorde das famílias e pela alta de juros. Quem comprou apartamento na planta para ganhar dinheiro revendendo-o antes da conclusão da obra não está conseguindo se desfazer tão fácil do imóvel, como ocorria até o início de 2011. Com a renda comprometida, também não tem dado conta de arcar com as parcelas do financiamento, cada vez maiores.
Os especuladores, que se deram bem num passado recente de alta valorização do metro quadrado, agora se veem com a corda no pescoço. Para fugir da inadimplência e não ter de devolver o imóvel à construtora, tentam passá-lo adiante por preços menores do que os cobrados pelas empresas, o que explica, em parte, a redução de valores em regiões do Distrito Federal, como Águas Claras e Noroeste.
A procura pela área de comercialização de ágios em uma grande imobiliária do país aumentou 75% no primeiro semestre, na comparação com igual período do ano passado. Em um único empreendimento de Taguatinga, pelo menos 20 proprietários tentam repassar o imóvel desde janeiro. Nos anúncios, eles chegam a sugerir a troca do ágio por algum carro de valor equivalente.
As construtoras tentam ajudar os clientes, dividindo as faturas maiores ou oferecendo a possibilidade de transferir a quantia paga para imóveis de menor valor. Ainda assim, em um mesmo prédio de Samambaia, só nos últimos dois meses, uma empresa fez cinco distratos. A devolução é realizada em até 10 parcelas.
Ressaca
A rescisão do contrato tem custado ao comprador, em muitos casos, mais de 30% do valor pago. Em média, toda semana chegam, ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), três reclamações envolvendo compra e venda de imóveis. “As pessoas compraram para revender, mas não estão conseguindo. Ao fazerem uma análise mais criteriosa do contrato, acabam encontrando falhas com mais facilidade”, comenta o titular da 2ª Promotoria de Defesa do Consumidor, Leonardo Bessa.
Em geral, os investidores têm aceitado preços de metro quadrado até 15% menores que os praticados pelas construtoras. “Ao trabalharem com valores abaixo das tabelas, os especuladores acabam atrapalhando a recuperação do mercado”, observa o vice-presidente de Indústria Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Adalberto Valadão Júnior.
A “ressaca do ágio” não se restringe a Brasília. Em todos os grandes centros, entre 2008 e 2010, a grande oferta de crédito, aliada à queda de juros, rompeu com um período de estagnação que durava 15 anos. Lançamentos se proliferaram, e os preços dispararam. No auge do boom imobiliário, todas as unidades de um empreendimento chegavam a ser vendidas em poucas horas. Estimulados por corretores, houve quem comprasse 10 apartamentos de uma só vez para revendê-los quase imediatamente, ganhando o percentual da valorização intensa e rápida daquele período.
O excesso de oferta e as mudanças econômicas esfriaram os ânimos, e os ágios viraram um problema. “O ganho previsto pelos investidores não aconteceu porque o mercado se estabilizou. Vai continuar crescendo, não na mesma velocidade”, diz o vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins. (Colaborou Diane Lourenço)
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