A receita é trabalho
Para José Celso Gontijo, diretor da JC Gontijo Engenharia, o sucesso de seus empreendimentos são frutos de muita dedicação e trabalho. Há 42 anos no mercado, José Celso participou da construção de importantes obras de Brasília. Chegou ao Distrito Federal em 1969 e já contabiliza mais de 17 milhões de m² construídos para o benefício de mais de 600 mil pessoas.
Com vigor e simpatia, o empresário falou sobre construção civil, política, Copa do Mundo, Olimpíadas, além do grande segredo para permanecer firme durante horas de trabalho: “Sou trabalhador, obstinado e corro atrás das coisas. Não desanimo diante de nada e comparo a vida e os negócios à uma corrida de obstáculos”.
Mesmo com o mercado imobiliário passando por uma crise desde o início do ano, José Celso acredita que Brasília não sofreu tanto as conseqüências, mesmo com o PIB do país caindo cada vez mais. Para o diretor da JC Gontijo a receita é muito trabalho, especialmente para um grupo que hoje emprega mais de 15 mil funcionários.
Marcone Formiga - Em que se resume o seu sucesso?
- Sou uma pessoa simples e não acho que tenho sucesso. Tenho muito trabalho! Sou uma pessoa trabalhadora, obstinada, e corro atrás das coisas. Não desanimo diante de nada e comparo a vida e os negócios à uma corrida de obstáculos. Quando você começa a correr, os obstáculos têm 20 centímetros, depois, passam para 40, 60... Ao vencer um obstáculo de um metro, vem um de um metro e dez, e cada um que você vai passando, dá mais força para vencer o outro. Quando chega ao fim, você já está pulando um metro e 80 brincando. É uma determinação e eu corro atrás, graças a Deus. Tenho a cabeça privilegiada: não tenho uma agenda e não anoto o que tenho que fazer. Pergunte à minha secretária! Eu guardo tudo na cabeça, sei de todos os meus compromissos e não me esqueço de nada. Evidentemente que a cabeça já foi muito melhor, mas é privilegiada.
Bruna Soares - O setor imobiliário de Brasília sofreu uma queda em fevereiro de 78% nas vendas e 61% nos lançamentos. Qual foi a causa desse tombo?
- O mercado imobiliário, no ano passado, já estava balançado. Não foi só nesse ano. É um negócio que já vem de alguns anos pra cá. Um país onde a economia tem um PIB de 0,9%, não tem jeito pra quase nada dar certo e ir bem. O ano de 2009 foi uma loucura. Para se ter uma ideia, Brasília vendeu mais do que o Rio de Janeiro. Foi algo fora da curva! Em função disso, os colegas e nós mesmos elevamos muito os preços do metro quadrado, cujo valor está muito alto. Estamos em uma economia onde a inflação está alta, de 6% ou mais, acima do ponto mais alto da média do Banco Central, e com uma taxa de juros muito baixa. Com uma CDI de 7,25, ao aplicar seu dinheiro, ele estará com juros quase negativos. Aplicar dinheiro hoje está muito ruim. Quando a aplicação do seu dinheiro está baixa, o pessoal corre para o mercado imobiliário. Eu estou nesse negócio há mais de 40 anos e estou esperando uma volta do investidor para o mercado. Isso pode acontecer mês que vem, ou daqui dois meses, mas vai acontecer. O mês de março foi melhor para nós, mas janeiro e fevereiro sempre são meses ruins porque depois do Natal e do Carnaval não acontece quase nada em nosso país tropical. Estamos começando a sair dessa crise grande, que já vem desde o ano passado. São Paulo está melhorando, e quando as coisas começam a melhorar por lá, aqui também melhora.
Bruna Soares - O senhor está otimista apesar de tudo?
- O Rio de Janeiro também está melhorando, então estou otimista e estou sempre esperando que vá melhorar. Baseado nisso que estou falando, o investidor não vai ter para onde correr, terá que vir para o mercado imobiliário. Nós, inclusive, estamos fazendo um lançamento essa semana. Já começou a sair um teaser no Jornal Nacional e no Fantástico, com a atriz Carolina Ferraz, que já fala sobre esse grande empreendimento imobiliário em Brasília, sem revelar ainda o que é. Nessa semana, revelaremos o Hotel Alvorada, que fica no Eixo Monumental. O investidor quer ter renda e o apartamento dá um retorno menor do que a área comercial, o apart hotel dá mais ainda. É um negócio que acreditamos que será muito bom. É o terceiro que estou lançando, então não posso reclamar do mercado. Para mim, está bom.
Bruna Soares - Como era no passado?
- Nos governos passados, comprávamos um terreno na Terracap, fazíamos um projeto, ele era aprovado, tirávamos alvará e o lançávamos. Quando demorava muito, eram seis meses. Hoje leva um ano e meio para se finalizar um projeto. Quem carimba a aprovação de seu projeto é a administração regional e cada região tem a sua. Eles hoje não têm autoridade para aprovar um projeto. Eles aprovam e ele é submetido à coordenadoria da cidade. O coordenador tem status de secretário, e o projeto vai para ele, que tem uma nova estrutura de arquitetura para administrá-lo. Se eles não acharem bom, você tem que fazer mudanças até que eles aprovem e devolvam para a administração, que faz as suas considerações. Se ela não concorda, refazemos o projeto, que volta para a coordenadoria e aí, se for aprovado, enviam para a procuradoria. A procuradoria, que é de advogados, tem uma divisão de arquitetura, ou seja, eles examinam de novo o projeto. Aprovado na procuradoria, ele volta para a coordenadoria e de lá, volta para a administração. Isso de um lugar para outro, de malote, em uma semana cada um. É um caos total!
Marcone Formiga - Existem dois tipos de pessoas: aquelas que vieram à vida a trabalho e as que vieram a turismo. O senhor se coloca no grupo dos que vieram para trabalhar?
- Eu só sei trabalhar! Costumo dizer que minha família reclama muito porque não tiro férias, mas digo que eu vivo de férias. Estou fazendo o que eu gosto. Eu trabalho muito, minha vida foi sempre de muito trabalho, 18, 16 horas de trabalho... A idade pesa! Ficar 18 horas já está puxado, mas ainda tenho pique. Como já dizia Albert Einstein, só no dicionário que sucesso vem antes de trabalho. Não é nenhum sacrifício vir trabalhar, é algo que faz parte da minha rotina, da minha vida. E eu ainda tenho um problema sério: só tenho três filhas, então trabalho dobrado.
Marcone Formiga - O senhor sempre acertou ou já cometeu erros?
- Já cometi muitos erros, todos nós cometemos! Mas depois dos 40, 50 anos, erramos pouco. Uma das melhores coisas do mundo é ter surpresas, principalmente quando elas são positivas. Eu já estou em uma fase da vida em que não tenho surpresa nenhuma, sei tudo o que vai acontecer, pois já vi este filme passar muitas vezes. A gente erra e aprende muito mais com os erros do que com os acertos.
Bruna Soares - Brasília é dona do metro quadrado mais caro do país. A quê se deve o valor de mais de R$ 10 mil?
- Não é bem assim. O metro quadrado mais caro do Brasil é na Avenida Vieira Souto e na Avenida Delfim Moreira, no Rio de Janeiro, onde o metro quatro é mais de R$ 60 mil. Então depende do lugar. Na Vila Nova Conceição e nos Jardins, em São Paulo, o metro quadrado é algo em torno de R$ 18 e 20 mil, em função do preço do terreno. Este preço aqui em Brasília é muito caro. Este preço acima de 10 mil reais por metro quadrado é para o Plano Piloto, setor Sudoeste. O Noroeste, que é um setor novo, já está vendendo a R$ 9 mil. Em Águas Claras, o metro quadrado é entre R$ 5 e 6 mil. Tudo é em função do terreno. Eu tenho um apartamento no Rio que tem 700 metros quadrados. Eles me ofereceram 50 milhões nesse apartamento, isso dá mais de R$ 70 mil o metro quadrado. A função do preço do metro quadrado é em função do terreno. Se ele for caro, o preço do imóvel fica caro.
Marcone Formiga - Como é manter um gigantesco grupo empresarial?
- A receita, novamente, é muito trabalho! Hoje, no grupo inteiro, gero 15 mil empregos. É uma responsabilidade muito grande e todo dia cinco tenho que pagar todos eles. É muito trabalho, muita luta e essa é a receita.
Bruna Soares - Como elege sua equipe?
- São colaboradores que estão comigo há muitos anos. Os diretores, por exemplo, estão comigo há vinte anos. Gosto de privilegiar a prata da casa. Tenho diretores que trabalham comigo há 40 anos. Eles vão ficando mais velhos, querem um trabalho mais leve, então só eu que não posso descansar aqui. Gosto de gente jovem também, pois velho já basta eu. Mesclo pessoas mais velhas, de 20, de 40, novas e experientes, porque evidentemente, não vou dizer que não sou centralizador, não. Fico sabendo de tudo que está acontecendo, sei mesmo, mas delego muito também. Tem uma área de Tecnologia da Informação, por exemplo, que emprego sete mil pessoas. Aqui na JC, fico sabendo de tudo, porque sempre estou aqui.
Marcone Formiga - O Brasil de hoje é pior ou melhor que o de antes?
- Acho que tudo vai melhorando, a tendência é essa. Eu tenho muitas restrições ao governo do PT, mas achamos que saímos de uma ditadura, onde não se podia falar tudo, para um regime absolutamente aberto, onde todo mundo expressa e tem direito de falar o que quiser. Não tem regime melhor do que uma democracia. Nisso, nós melhoramos. Apesar de que na época da revolução e da ditadura, para nós, consultores, era muito mais fácil. Hoje, há muita dificuldade, mas acho que faz parte. Não sou uma pessoa saudosista, pois estou sempre me adaptando aos novos tempos. Faz um mês que estou fazendo um prédio na 312, um prédio “rico”, cujo apartamento mais barato custa R$ 3 milhões, e a cobertura R$ 7 milhões – veja o nível de pessoas que compraram estes apartamentos...
Marcone Formiga - Qual setor hoje é mais visado: residencial, comercial ou de shoppings centers?
- São segmentos bem diferentes. O segmento residencial é para pessoas que estão precisando de uma casa para morar, para uma filha ou um rapaz que vão se casar e que querem comprar ou vão ganhar um apartamento. Ou seja, normalmente, é a pessoa que vai ser o ocupante daquilo, quase nenhum investidor compra apartamento para alugar, porque o valor é muito baixo. O comercial tem dois segmentos: de salas e corporativo. O corporativo é quando se faz um andar inteiro, como é muito usado aqui em Brasília, em São Paulo e no Rio também, para serviço público. Hoje temos 39 ministérios e secretarias, e eles alugam prédios para isso. O governo federal e estadual, bem como as entidades internacionais que estão aqui alugam muito. Rio e São Paulo também porque têm um PIB alto.
Bruna Soares - Como o senhor vê o governo de Dilma Rousseff?
- Acho ela uma pessoa séria, correta e bem intencionada contra os malfeitos, mas é muito centralizadora. Em uma área como economia, energia e transportes, ela se considera quase que a professora de Deus, e isso é complicado. Ela está em franca campanha de eleição, e acho que isso não é bom, há um ano e meio da eleição. No Dia da Mulher, ela faz um discurso e tira os impostos da cesta básica. No setor elétrico, rompe contratos e baixa a energia e a luz. Acho que isso tem que ser mais sério.
Bruna Soares - No quê Brasília se beneficia pelo fato de ela ser uma cidade nova, mas com inúmeras restrições para se construir?
- Acho que nenhuma cidade no mundo nasceu como Brasília, toda setorizada e com tudo muito separado. Isso foi feito pelo Oscar Niemeyer e pelo Lúcio Costa, que eram comunistas, e que tinham a influência da época em que a Rússia comandava o mundo. Tinham uma influência grande. Uma das coisas que não se admite, por exemplo, é que tem alguns prédios que estão fechando o lojista, e o lojista deve ser aberto. Estamos vivendo com insegurança, com a quantidade de pessoas que mexem com o crack. Se está em seu apartamento, com o pilotis aberto, há problemas de bandidos e de viciados e ninguém pode fazer uma cerca.
Marcone Formiga - A crise mundial complica?
- Basta observar o PIB, por que ele está tão baixo? PIB de 0,9% é menos do que o aumento de nossa população. Estamos andando para trás. A China está importando para o mundo todo e nós não temos competitividade como esses países possuem, porque o nosso imposto é alto e nossa lei trabalhista nos massacra. Os funcionários custam alto e nem nos Estados Unidos existe isso. Por exemplo, não sou contra, mas não sei se as empregadas domésticas vão conseguir receber essas horas extras ou se muita gente será demitida. Acho que foi uma espécie de Lei Áurea se comparada à escravatura, mas hoje, quase que se precisa montar uma empresa dentro de casa para administrar essa confusão toda do trabalhador. Nós não temos portos, estradas, ferrovias e a infraestrutura do país é muito ruim para competir com quem têm portos e ferrovias maravilhosos. Nossa agricultura é muito boa, nosso produtor rural é campeão, mas no caso dos produtos agrícolas, estamos exportando só matéria-prima, como minério, soja, feijão... Viramos um país industrializado, mas não conseguimos competir com manufaturados. Se a Europa está com dificuldade de se recuperar, a culpa é do setor social. Lá, se alguém perde um emprego, recebe salário por dois anos e hospital e escola são de graça. Isso custa muito para os governos e é por isso que eles estão nesta situação.
Bruna Soares - É possível notar alguma aceleração no mercado imobiliário do país, neste período que antecede a Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas?
- Copa do Mundo e Olimpíadas são fenômenos de poucos dias, de um mês. No mercado imobiliário, a não ser no de negócios de hotéis – como os meus, que lancei três que eram para ficar prontos até a Copa do Mundo, mas que com esses atrasos nas aprovações, só ficarão prontos em dois anos –, a repercussão é mais em termos de turismo, restaurantes, bares e táxis, por um período relativamente pequeno.
Marcone Formiga – Mas o senhor está otimista?
- Recentemente assisti um programa de TV com o Aldo Rebelo e cheguei a conclusão de que só ficarão prontos mesmo os estádios. A infraestrutura, o VLP, ou o metrô que ia até o aeroporto, não acontecerão, e isso seria bom para a comunidade e para as pessoas que moram em Brasília. Eu acreditava muito na Copa e nas Olimpíadas como uma forma de se melhorar o trânsito, desafogando as vias. Mas o VLT está parado, a W3 Sul interditada... São as “encrencas” que ninguém resolve. Achei que o aeroporto também seria melhorado, mas nesta semana cheguei a ficar 30 minutos parado dentro da aeronave, esperando o piloto encontrar algum local no pátio para estacionar! Este setor já tinha que apresentar resultados.
Marcone Formiga – Quais são os próximos projetos da JC Gontijo?
- Estamos lançando, semana que vem, o Hotel Alvorada. A JC está sofrendo algumas modificações, está se reformulando. A vida é sempre mutável para melhorarmos. Já trabalharam comigo mais de mil engenheiros e nunca dei a nenhum deles uma orientação no sentido de fazer algo ruim. Uma obra tem que ser muito bem feita, de qualidade. Durante todos esses anos, construí 17 milhões de metros quadrados de obras. Se isso for transformado em apartamentos de 100 metros quadrados, com dois quartos e duas suítes, dá 170 mil unidades. Com quatro pessoas em cada um deles, são 680 mil pessoas que foram beneficiadas. É muita coisa! Já construí milhões de quilômetros de estradas, estações de tratamento de esgoto, além dessa ponte maravilhosa, que é a Ponte JK.
Marcone Formiga – Como manter tudo isso?
- Fiz muita coisa em 18 estados e me orgulho de tudo que fiz! A JCGontijo continuará fazendo imóveis de luxo. Mesmo com essas dificuldades de aprovação dos projetos e também pelo mercado estar ruim, estou construindo 300 mil metros quadrados na área de grife e 400 mil estão em aprovação. Quero manter isso, se tiver mercado. Estou fazendo três mil apartamentos no modelo Minha Casa Minha Vida. Tenho um shopping em frente a eles. Tenho uma experiência muito grande nesses apartamentos de baixa renda.
Outro segmento para o qual vou dar uma ênfase especial é o de desenvolvimento urbano. Tenho hoje nos arredores de Brasília, 25 milhões de metros quadrados de área legal, com escritura. Fiz o primeiro, que é o Santa Mônica, que são 800 lotes residenciais e 100 comerciais. Espero chegar aos 25 milhões de metros quadrados. É muita coisa para brincar, mas tenho muito entusiasmo, muita saúde e espero chegar lá!
Fonte:
http://brasiliaemdia.com.br/componen...ita-e-trabalho