Aeroporto de Brasília faz expansão arriscada
Quem acreditava que as concessões à iniciativa privada iriam modificar de imediato a situação dos aeroportos brasileiros pode ficar frustrado ao visitar Brasília (DF). Com frequência, os 43 mil passageiros que passam pelo terminal por dia encontram dificuldades como falta de lugares para sentar, reformas no meio do terminal, além de aguardarem vários minutos a bordo do avião taxiando na pista.
Obras já consumiram R$ 500 milhões, com objetivo de ampliar capacidade para 21 milhões de passageiros ao ano até 2014
As situações ocorrem graças à escolha de uma estratégia arriscada para a imagem dos controladores. A opção foi fazer as obras do aeroporto em meio às operações já existentes - diferentemente de Guarulhos e Viracopos (ambos em São Paulo), onde as obras são feitas em locais afastados. Com isso, as obras interferiram na operação.
"Isso é verdade. Tivemos de entrar na pista para fazer as obras, realocamos posição de aeronaves, e isso atrapalhou. Atrapalhou mesmo", diz José Antunes Sobrinho, sócio-diretor do grupo Engevix, um dos controladores da concessionária Inframérica.
Apesar dos problemas, Sobrinho acredita que essa foi a opção correta. "Se eu tivesse um terminal separado, seria mais fácil construir, mas mais difícil operar no futuro. Vamos ter uma condição operacional melhor", diz. O aeroporto tem capacidade para 16 milhões de passageiros. Até a Copa do Mundo de 2014, o objetivo é aumentar o número para 21 milhões. "O maior desafio é esse: em 18 meses você cumprir um contrato de concessão no qual estão previstas 28 pontes de acesso, melhorias de pistas, estacionamento, modificação do sistema operacional... É um desafio hercúleo."
Atualmente, 50% das obras estão prontas e, segundo Sobrinho, elas serão entregues em 2014, a tempo do Mundial. "Nós não vamos cumprir só porque é uma obrigação contratual. Vamos cumprir porque, se não tivermos um bom aeroporto, não teremos crescimento do tráfego aéreo", diz. "São condições para crescer."
O aeroporto de Brasília também enfrenta problemas, assim como seus pares em São Paulo. Em Viracopos, por exemplo, houve a morte de um funcionário nas obras. Em Guarulhos, a Justiça chegou a bloquear bens da concessionária após a acusação de irregularidades trabalhistas.
Em nenhum, no entanto, houve tão cedo um susto nas operações como no caso de Brasília, quando, no primeiro dia de gestão 100% privada, um apagão tomou conta do terminal. O governo ficou irritado com o episódio e acionou diferentes ministérios para identificar a causa do problema na época.
Brasília também foi o último aeroporto a receber o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O empréstimo de R$ 488 milhões foi contratado somente em janeiro de 2013.
Além disso, há reclamações sobre a operação, como a retirada de bagagem. Sobrinho nega que haja problemas nesse tipo de operação, que é de responsabilidade das companhias aéreas. Mesmo assim, diz que os novos equipamentos providenciados pelos novos controladores do aeroporto reduzirão a demora.
"Temos um aeroporto vivo. Além de todas as obras, temos 16 milhões de pessoas passando aqui e a operação tem de ser segura", diz. "Esse é o grande ponto em que estamos lutando. E estamos indo bem, na nossa visão", afirma Sobrinho. E nega que haja problemas com os trabalhos da sócia argentina, a Corporación América. "É um bom sócio", diz.
Brasília foi bastante disputado no leilão do começo de 2012. O consórcio entre Engevix e Corporación América fez lance inicial de R$ 3,5 bilhões e venceu a disputa com lances no viva-voz, com uma oferta de R$ 4,5 bilhões - um ágio de 673,39%. Também concorreram OHL Brasil, Invepar e Fidens.
O próximo leilão de aeroportos do governo federal está marcado para novembro, com as licitações de Galeão (RJ) e Confins (MG), com grande interesse devido, principalmente, ao potencial comercial. Mas as experiências de Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Brasília (DF) alertam sobre o desafio para o qual os novos interessados devem estar preparados.
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