Klein amplia frota da Icon neste ano, de olho na Copa
Antes de abril acabar, os funcionários que trabalham na rua João Pessoa, 83, em São Caetano do Sul, não mais vão ouvir a chegada ou a partida do helicóptero Agusta, que diariamente transporta o empresário Michael Klein. Ele vai deixar, depois de mais de quarenta anos, de dar expediente no quinto andar do prédio que abrigou a primeira loja da Casas
A nova base de trabalho de Klein será a avenida Jurandir, colada ao aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, sede da Icon Aviation, a empresa de aviação executiva do empresário. "A aviação já toma mais de 50% do meu dia. Isso só vai só aumentar. No varejo eu estou apenas no conselho, tenho atuação passiva" diz Klein. Ele é membro do
Na Icon Aviation, diz Klein, a situação é diferente. Ele comanda diretamente a empresa, que vem crescendo. "Vamos crescer 40% este ano", disse o empresário ao Valor, em entrevista dada ainda em sua sala na Casas Bahia, decorada com maquetes de aeronaves.
A ironia é que a aviação, que hoje tira Klein do mundo do varejo, entrou na rotina do empresário por causa da Casas Bahia, onde ele começou a trabalhar em 1969 como gerente financeiro. "Nos anos 90, a gente estava abrindo lojas. No interior de São Paulo, não dava para ir de carro. Demorava muito. Então, em 1994, compramos nosso primeiro helicóptero
Em 2012, quando a Casas Bahia já era do Grupo Pão de Açucar, os novos donos avisaram Klein que as aeronaves não teriam mais serventia. Naquele ano, a frota da empresa somava três helicópteros e quatro jatos. "Depois de estudar o que fazer com os ativos, decidimos criar uma empresa de táxi aéreo".
Dois anos depois, no 2014 da Copa do Mundo, estreava a CB Air, ou Capital Brasileiro Air - e não Casas Bahia Air, porque a marca também fora vendida pelos Klein ao Pão de Açúcar. Naquele mesmo ano, a empresa conseguiu fechar contratos grandes como o transporte de delegados e convidados da Fifa.
A Via Varejo foi posta à venda pelo Grupo Pão de Açúcar há mais de um ano, mas Klein não parece interessado em recomprar a Casas Bahia. Ele diz que aproveita na aviação o que aprendeu no varejo. "A empresa de aviação não deixa de ser varejo. No varejo, você realiza sonhos de pessoas, que querem um bem. Na aviação, você realiza sonhos de viagem, par
Na aviação executiva, o empresário disputa espaço com 120 empresas de táxi aéreo, segundo registros na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O mercado é pulverizado. No segmento de fretamento para passageiros e serviços de hangaragem a concorrência é mais concentrada em companhias como a mineira Líder Aviação e a paulista TAM AE.
Na Icon, Klein não gasta tempo ou recursos em campanhas publicitárias de massa, como fazia nas Casas Bahia, mas investe em comunicação direta com os usuários de aviação executiva.
Saber comprar e vender é outro ativo que ajuda Klein nessa etapa nova da vida empresarial. Na Casas Bahia, aprendeu a comprar e vender eletrodomésticos, móveis e imóveis. Na Icon, passou a comprar aeronaves de olho na demanda dos passageiros - executivos e empresários usuários da aviação executiva. Diz que viu maior interesse por aviões mais confor
O empresário também entrou no mercado comprando aeronaves de proprietários que queriam fazer caixa ou reduzir custos fixos de manutenção. "Temos clientes hoje que eram donos de aeronave. Eles venderam [aeronaves] pra gente, mas continuaram fretando os voos", conta. "Na aviação executiva, não é como na aviação regional, que você assume o risco de co
Mas para o modelo de negócio rodar, é preciso consolidar uma carteira de clientes que dê giro aos ativos. Avião é rentável voando; no solo representa custo. Por isso, em agosto de 2016, quando a empresa de táxi aéreo de Michael Klein tinha 12 aeronaves e dois hangares, o empresário fez a compra mais agressiva, assumindo a concorrente Global Aviatio
Com o negócio, aprovado pelo Cade no fim de 2016, a empresa de Klein aumentou a frota para 32 unidades - sendo 12 próprias e as demais modelos de terceiros que a Global apenas gerenciava, sob contratos de administração - e dez hangares. A companhia ganhou novo nome, Icon Aviation.
Depois, em setembro do ano passado, a Icon comprou outra empresa, a Morro Vermelho Táxi Aéreo, do Grupo Camargo Corrêa, assumindo mais três aeronaves e mais um hangar, no aeroporto de Congonhas. "O ano de 2017 foi de integração das duas empresas. Algumas pessoas tiveram que se adaptar, outras não se adaptaram. Agora está tudo certo. Todo mundo sabe
Por isso, afirma ele, a empresa tem condições de mais que triplicar o ritmo de crescimento da receita em 2018, ante 2017, quando o faturamento aumentou 12%, para R$ R$ 158 milhões, abaixo da meta inicial, que era de R$ 200 milhões. "A economia está melhor, e isso ajuda. Mas estamos mais preparados este ano", acrescenta.
A Icon Aviation tem hoje 25 aeronaves, sendo 17 próprias e oito de terceiros sob gestão - desde helicópteros Agusta 109 Power, com capacidade para seis pessoas, até um Gulfstream G550, com capacidade para transportar 18 passageiros em rotas longas. Este avião pode voar de São Paulo a Moscou, sem escala, e custa cerca de US$ 60 milhões. Neste ano, a
Fazer voos com o Gulfstream para a Rússia é um dos planos de Klein neste ano. Ele quer vender pacotes para os jogos da Copa do Mundo, em parceria com agências de viagem de luxo. A Icon também está entrando no mercado de compartilhamento de aeronaves, para concorrer com a Prime Fraction e a Avantto. Vai também operar rotas fixas de temporada.
No compartilhamento de aeronave, que a Icon lança este mês, serão comercializadas três cotas de avião ou cinco cotas por helicóptero. Os donos dessas cotas têm direito a um número determinado de horas por ano. "Se o cotista não fizer uso de suas horas, ele pode colocar a aeronave em nossa plataforma de serviço de taxi aéreo, o que reduz para ele os
O serviço de compartilhamento terá uma cláusula de saída. Isso permite ao cotista vender, após um período determinado no contrato, sua participação na aeronave a um preço de mercado. "Isso dá liquidez ao ativo", afirma Galvão.
A Icon também vai operar mais rotas fixas neste ano, um modelo de negócio testado em janeiro e fevereiro. Foram feitos voos de São Paulo a Angra dos Reis e Paraty nos fins de semana, sempre nos mesmos horários.
Klein projeta gerar mais receita com a intermediação na venda de aeronaves. Em 2017 foram feitas 14 transações, de novos e usados. "Queremos fazer pelo menos 1,5 transação por mês", disse. Ele projeta crescer 28% nesse tipo de negócio neste ano.
Segundo Klein, a economia está mais aquecida, levando mais empresários e executivos a usar o táxi aéreo. Ele nota a maior demanda, por exemplo, entre empresários do agronegócio. Por isso, diz, a Icon está comprando mais duas aeronaves este ano, uma delas um turboélice da fabricante suíça Pilatus, capaz de pousar em pistas de terra.
Klein diz que os investimentos na Icon têm sido feitos com capital próprio. "É como financiamento de carro. Você dá uma entrada e financia o resto", brinca, sem abrir quanto investiu desde a aquisição da primeira aeronave.
"Vamos abrir pelo menos mais duas bases neste ano", diz Klein, citando um novo hangar em Brasília e mais um a ser definido, entre Rio de Janeiro e uma cidade do Nordeste. O plano é começar a oferecer voos a partir de Brasília e do Rio, além de São Paulo.
O presidente da Icon descarta buscar recursos no mercado de capitais ou emitir dívida para alavancar a empresa, pelo menos no curto e médio prazos. "Só se aparecer uma concorrente estrangeira de táxi aéreo para entrar com força no Brasil e a gente precisar se reforçar. Mas, por enquanto, não vejo necessidade", diz Klein.
Ao transferir seu escritório para São Paulo, Klein diz que vai ficar mais próximo dos 320 funcionários da Icon. Perguntado se a mudança é temporária, se a Via Varejo pode voltar a ocupar mais espaço em sua agenda, Klein responde, sem hesitar: "Não quero mais ser ativo no varejo".
Fonte:
http://www.valor.com.br/empresas/536...e-olho-na-copa