Reduto da classe média do DF, Águas Claras cresce quase o dobro que Brasília
Crescimento desenfreado e sem acompanhamento traz problemas de serviços básicos no local
Divulgação/GDF
Desde que surgiram os primeiros prédios da região, Águas Claras virou reduto da classe média de Brasília
Com apenas 22 anos de existência, Águas Claras é uma das regiões que mais crescem no Distrito Federal. Atualmente, o local conta com mais de 121 mil habitantes – o número equivale a mais da metade da população de Brasília, que hoje tem 221 mil habitantes acumulados em seus 54 anos. Segundo a PDAD (Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios), realizada pela Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal), Brasília tem uma taxa média de crescimento de apenas 1,8% ao ano, enquanto Águas Claras cresce quase o dobro: 3,45% ao ano.
Desde que surgiram os primeiros prédios da região, o local virou o reduto da classe média de Brasília. Com a área restrita do Plano Piloto para novas construções, os imóveis foram ficando caros e a classe média se viu obrigada a ir para regiões mais distantes. Águas Claras supriu essa demanda principalmente por ter uma linha de metrô. A região foi criada em dezembro de 1992, por meio da Lei nº 385, que autorizou a implantação do Bairro de Águas Claras na Região Administrativa de Taguatinga—RA III e aprovou o respectivo Plano de Ocupação. Em 2003, o local se tornou região administrativa do Distrito Federal e virou referência entre as cidades que fazem margem a Brasília.
O crescimento desenfreado, no entanto, trouxe diversos problemas para a região. O local vive um verdadeiro “boom" comercial e habitacional. Além disso, é conhecida por ser um grande canteiro de obras. Com isso, a cidade sofre com o trânsito no local, com os constantes engarrafamentos no principal caminho a Brasília e com a falta de estrutura. Há falta de serviços básicos, como postos de saúde, hospitais, escolas e opções de lazer.
A moradora de Águas Claras, Cristiane Ferreira, 27 anos, diz que tem a impressão de que a maioria das passagens para pedestres são, na verdade, “lotes de construção”, fato que a impossibilidade levar sua filha de três anos para passear com tranquilidade.
— Não tem calçada. Tem uma avenida atrás da minha casa que é o caos, você anda na pista, [por entre os carros], ou na terra. Então, se você tem filhos pequenos, você não anda direito na rua. Sempre tem que procurar uma pracinha ou então tem que andar na área comum do prédio mesmo.
A nutricionista Tathi Lemes, também moradora de Águas Claras, tem como maior decepção o trânsito do local. Segundo ela, a sinalização é “insuficiente ou péssima”. Além disso, Tathi relata que as entradas e saídas da cidade, na hora de pico, travam completamente.
— Há também a falta de vagas, algumas pessoas não gostam de vir para Águas Claras porque não têm onde estacionar. Falta delegacia e policiamento. Falta posto de saúde. Quando precisamos fazer B.O (Boletim de Ocorrência) ou tomar vacinas, precisamos nos deslocar para Taguatinga. Sempre que chove muitas ruas alagam. Há muitos buracos pela cidade. Muitas obras abandonadas, onde usuários de drogas e assaltantes se aproveitam do local. Fora que os serviços aqui são caros.
Segundo o professor Benny Schvarsberg, do Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo da UnB (Universidade de Brasília), Águas Claras foi concebida como área de classe média, mas, ao mesmo tempo, como uma área para a passagem da linha do Metrô-DF – por isso houve um estímulo à ocupação da área – fato que explica o porquê a região ficou tão populosa.
— Hoje, no decorrer do tempo, houve um adensamento excessivo daquela região, sem o devido acompanhamento em termos de cargas urbanas, infraestrutura, serviços, inclusive com déficit de qualidade, explica.
Patrícia de Matos foi a escolhida pelo governador do DF Rodrigo Rollemberg (PSB) para administrar a região. Como moradora da cidade há nove anos, ela diz ter conhecimento de todos os problemas relatados nesta reportagem, mas garante estar preparada para enfrentá-los.
— O que a gente tem de meta é estreitar os laços com as secretarias, conseguir mais equipamento, mais transporte público, arrumar o sistema viário. Já estamos fazendo um projeto junto com o Detran para organizar o trânsito. Já foram feitas pequenas alterações perto da Caesb, mas ainda tem muito o que melhorar. Estamos com processo pronto desde 2013 para sanar a falta de calçadas em Águas Claras, queremos licitar esse ano uma obra para resolver isso. Temos projeto para revitalizar as avenidas. Vou priorizar tudo isso.
http://noticias.r7.com/distrito-fede...silia-01042015