Comércio de portas abertas
Marcas internacionais como Forever 21, Nyx, Sephora e Zara Home chegam à capital neste ano para incrementar os mercados de moda, beleza e decoração
Inauguração da grife de fast-fashion no Rio: longas filas e empurra-empurra (Foto: Divulgação)
Era a noite anterior à abertura da Forever 21. Às 23 horas, as filas começaram a se formar no carioca Village Mall. Próximos à loja, grupos de consumidoras discutiam estratégias para adquirir as melhores pechinchas da fast-fashion americana. Às 10 horas da manhã do último dia 20, quando as portas se abriram, já havia mais de 2 000 pessoas ávidas por compras. Elas correram, apertaram-se entre as araras e brigaram por blusas de 8,90 reais e vestidos de 20,90 reais. No primeiro balanço no fim do dia, a proposta de uma moda atual por preços módicos — ainda rara no país — proporcionou o dobro do volume de vendas esperado pela marca estrangeira.
Na capital federal, as brasilienses podem preparar o ânimo para viver frenesi semelhante. Até o fim do ano, a Forever 21 promete inaugurar uma filial no ParkShopping. Ela terá o mesmo mix de peças e acessórios das lojas do Rio e de São Paulo — esta aberta cinco dias antes da unidade carioca, com alvoroço parecido. A grife não estará sozinha. Vai integrar um boom de empreendimentos internacionais descolados que prometem estrear por aqui em 2014. A americana Nyx já tem seu nome estampado num quiosque de maquiagem do Shopping Iguatemi desde o mês passado. Em meados de maio, ela compartilhará o endereço com a espanhola de decoração Zara Home e, até o meio do ano, com a multimarca francesa de cosméticos Sephora.
Apesar de atuarem em ramos diferentes, todas dividem um mesmo princípio: oferecer artigos de design por preços acessíveis. Tal movimento ocorre no mundo desde os anos 2000, mas chegou ao Brasil apenas no início desta década. São Paulo funciona como porta de entrada. Depois de organizarem as operações na cidade, algumas marcas de fora com essa proposta já levam seus produtos para outros grandes centros brasileiros.
Apesar de certo atraso no desembarque, os gigantes espanhóis, americanos e franceses estão, há tempos, de olho no aumento do poder de compra no país e também na carência de empresas competitivas nesses nichos. A Sephora, por exemplo, descobriu que a indústria de beleza nacional tem um problema enorme de distribuição de cosméticos importados. “É um mercado pouco explorado. Por isso queremos tanto conquistar esse espaço”, diz Flávia Bittencourt, diretora-geral da empresa no Brasil.
Do lado dos consumidores, a empolgação com a tendência só perde força quando o tema é a política de venda dessas grifes estrangeiras que aportam no país. “Não sei se elas vão conseguir manter o conceito de preços baixos aplicado no exterior”, afirma a estudante Maria Antônia Pontual. Ela não perde a chance de frequentar essas lojas em suas viagens internacionais. Se ainda é cedo para fazer prognósticos detalhados, uma coisa parece certa: os artigos chegarão com preços mais altos do que os cobrados nos países de origem. “Os impostos não são os únicos vilões. Há também o alto custo dos shoppings, do deslocamento e da mão de obra”, explica Rogério Casagrande, diretor de marketing e expansão da Nyx.
Para as concorrentes nacionais, a chegada das empresas de fora significa preocupação. A rede brasiliense de cosméticos Lord, por exemplo, previu há cinco anos o surgimento de grandes nomes de fora. Depois de constatar a numerosa variedade de produtos dessas marcas, passou a planejar seus passos diante da nova realidade. “Temos a vantagem de conhecer o mercado, contar com um público fidelizado e oferecer um serviço de mais qualidade”, avalia Adriana Karina, diretora da Lord Perfumaria.
A disputa por mercado deve ganhar mais participantes em curto prazo. Hoje, o mercado de Brasília é estudado por outras multinacionais, como TopShop e Gap. Se o frisson da Forever 21 se repetir na capital ao longo desta temporada, aumentarão as chances de termos novos sotaques nos campos da moda, beleza e decoração.
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