Médicos do DF podem ganhar até R$ 70 mil por mês na rede pública de saúde
Profissionais em final de carreira que fizerem horas extras podem ganhar os supersalários
Os médicos que trabalham na rede pública do Distrito Federal podem ganhar até R$ 70 mil por mês, dependendo do tempo de serviço e da quantidade de horas extras somadas a outros benefícios, como férias, 13º salário e procedimentos de mutirão. As informações são da SES-DF (Secretaria de Saúde do DF).
A pasta informou que, atualmente, 5.200 médicos estão na ativa e prestam serviços para o GDF (Governo do Distrito Federal). No mês de maio, 14 deles, todos com doutorado concluído, receberam a quantia de R$ 40 mil por terem feito horas extras durante o período.
No entanto, a remuneração oficial deles é o teto constitucional do funcionalismo público local, R$ 24.117,62, a mesma que um desembargador do TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios), porque são mais antigos ou estão perto da aposentadoria.
O salário para os médicos em início de carreira e que trabalham 40 horas semanais é de R$ 7.778,70. Os que estão no quadro de funcionários de 20 horas recebem um pouco menos, R$ 6.306,54, mas todos podem aumentar o contracheque se estiverem dispostos a fazer horas extras e trabalhar nos esquemas de mutirão.
Quando a remuneração vem acrescida de valores esporádicos para os mais antigos, como as férias ou 13º salário, surgem os supersalários como um médico que, no início do ano, recebeu o valor líquido de R$ 70.486,29.
Na mesma época, outros dois colegas de jaleco receberam R$ 65.897,11 e R$ 50.080,45, valores compostos, da mesma forma, pelo salário no teto, horas extras e ganhos eventuais.
Mesmo com a determinação imposta pela Constituição Federal para que o teto da remuneração do funcionalismo público do Distrito Federal não ultrapasse o valor que um desembargador do TJDFT recebe, os supersalários não são considerados ilegais. Isso acontece porque, com o passar do tempo, os médicos recebem as devidas promoções e reajustes salariais e equiparam as remunerações com a de um desembargador. O que fica acima disso é considerado hora extra, o que desclassifica os cortes, descontos e demais obrigações legais.
O secretário de Saúde, Rafael Barbosa, admitiu que a categoria recebe bem no Distrito Federal e que os profissionais com mais tempo de serviço, em especial os que estão perto de se aposentar, realmente são privilegiados. Ele explicou que, em determinados casos, um plantão chega a custar R$ 3 mil.
— Nosso sistema de ponto eletrônico foi criado para diminuir esse tipo de gasto.
Barbosa também disse que, para trabalhar como médico na Secretaria de Saúde, mesmo que de forma temporária, é necessário ser aprovado em processo seletivo. Ao todo, 109 profissionais têm contrato com o GDF por tempo determinado, de dois a seis anos, atualmente.
— Os que não são do quadro permanente também tiveram que fazer concurso público. Eles podem ganhar de R$ 7 mil a R$ 20 mil, dependendo da quantidade de horas semanais trabalhadas e a especialidade que vão atuar. Um pediatra de 40 horas, por exemplo, recebe o valor máximo. O clínico geral de 20 [horas] ganha o mínimo.
Cirurgiões não ganham mais
A Secretaria de Saúde do DF explicou que os médicos especialistas em cirurgias mais sofisticadas, como plásticas, cardíacas ou neurológicas, não ganham a mais por isso. No entanto, em casos esporádicos, podem receber por procedimento ou hora extra, quando forem solicitados fora do horário de serviço.
O Sindicato dos Médicos de Brasília questionou esses valores e disse que os supersalários levam mais de duas décadas para serem conquistados e chegam somente a uma minoria que está na ativa. A assessoria de imprensa do sindicato alega que, em carreira inicial, um médico concursado da SES-DF recebe, no máximo, R$ 3.800 de remuneração.
Esse é o caso do médico cirurgião Vitor Bittencourt. Formado em medicina há três anos e meio, ele trabalha para a Secretaria de Saúde do DF há quatro meses. Ele foi aprovado no último concurso público e trabalha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do HRan (Hospital Regional da Asa Norte). Bittencourt tem duas especializações e diz que, apesar de receber "um bom salário", ele ainda pode ser melhorado e equiparado com outras categorias do serviço público.
— Um médico em carreira inicial ganha R$ 3.800 e com o tempo pode ganhar o teto constitucional. No entanto, isso leva pelo menos 25 anos para acontecer.
Reajuste salarial
No mês de maio, o GDF anunciou que os médicos do Distrito Federal terão um reajuste de 66% nos próximos três anos para o piso salarial, segundo o novo plano de cargos e salários. O presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho, participou da cerimônia com o governador Agnelo Queiroz e disse que está otimista com a novidade.
— O anúncio do GDF preenche todas as nossas reivindicações do ponto de vista do plano de cargos e salários.
Fialho lembrou que as discussões, retomadas em novembro de 2012, foram longas, mas satisfatórias e correspondem às expectativas da entidade em captar profissionais para resolver a carência de médicos na capital federal.
O secretário de Administração Pública do DF, Wilmar Lacerda, garantiu que também haverá um aumento de 27,9% para o teto, que será de R$ 16.207,53 em 2015 se o profissional fizer jornada semanal de 40 horas.
— Um dos grandes problemas da prestação do serviço de saúde é atrair e manter os médicos na rede pública. Essa nova estrutura de carreira permitirá o GDF melhorar o atendimento de nossa população.
Para isso, foram nomeados 20.988 servidores, dos quais 11.680 para a área de Saúde. Deste total, 2.800 são médicos, mas Lacerda admitiu que mais da metade desiste da profissão pela má remuneração.
— O salário hoje é pouco atrativo para o início de carreira. Esse novo plano visa à correção.
http://noticias.r7.com/distrito-fede...saude-07072013