Para especialista, quadras 700 do Plano Piloto, planejadas para ser chácaras, parecem 'favelas em área nobre'
Urbanista da UnB diz que o problema está no planejamento urbano da área
Foto: Douglas Lemos/R7
No projeto original de Brasília, as quadras 700 do Plano Piloto, região central de Brasília, sequer existiam. A área acima da via W3 – que era imaginada como uma espécie de via expressa, como a EPIA (Estrada Parque Indústria e Abastecimento), seria destinada a chácaras que produziriam frutas, legumes e a criação de animais, de acordo com Frederico Flósculo, professor da UnB especialista em Urbanismo.
No processo de construção da cidade, durante a construção de apartamentos funcionais, faltavam residências para os engenheiros e o pessoal da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital). Foi então que o presidente Juscelino Kubitschek autorizou a construção das vilas, que começaram na Asa Sul, com casas
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Com a evolução da Asa Norte, a tendência era a de que as quadras 700 Norte também fossem aprimoradas em relação as 700 Sul. Mas Flósculo diz que o urbanismo na W3 Norte é “absurdamente ruim”, define o local como uma “favela em área nobre” e destaca que houve um problema na continuidade, na Asa Norte:
— A equipe de urbanistas que projetou a W3 norte não era a equipe de Lúcio Costa
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Geraldo Batista, arquiteto, discorda do ponto de vista de Flósculo. Para ele o conceito de favela é outro. Batista apontou que, especialmente a W3 Norte, sofre com um "descuido" de detalhes importantes, como desníveis que prejudicam a circulação de portadores de necessidades especiais, por exemplo. Ele explica que em uma rua com um declive, como partes da W3 Norte, as lojas possuem o chão nivelado, ao contrário das calçadas, e discorda com as medidas que os comerciantes fazem ao adaptar rampas e escadas em alguns pontos:
— No meu ponto de vista é inadmissível. Isso teria que ser feito no interior da loja, para você ter a calçada livre, com conforto
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Frederico Flósculo descreve as quadras 700 Norte como uma faixa comercial ao longo da W3 e uma residencial ao longo da W4, vista como uma mistura de quadras com casas e prédios semelhantes às da W3 Sul. O especialista diz que o processo de construção da W3 Norte foi uma conduta feita por urbanistas que estavam no quadro do GDF. Não houve consulta a nenhum arquiteto urbanista de fora de Brasília.
— É o que nós podemos chamar de “baixo clero” do urbanismo. Eram pessoas sem o maior conhecimento de urbanismo, embora tivessem noções de como Brasília funcionava. Não tem a elegância e a qualidade de projeção da W3 Sul
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Segundo o especialista da UnB, o urbanismo presente na W3 Norte colabora para a desvalorização da área. Hermes Alcântara, presidente do Creci-DF (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Distrito Federal), diz que o metro quadrado das casas é mais barato do que o metro quadrado dos apartamentos
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O presidente da entidade também deixou claro que as quadras 100 e 300 – ambas residenciais – são mais valorizadas e procuradas por tipos diferentes de consumidor. Alcântara ressalta também que os imóveis nas quadras 700 Norte são menos valorizados:
— A Asa Norte ainda não tem o mesmo valor que a Asa Sul
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Flósculo, que comparou a W3 Norte com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, grande Avenida comercial do Rio de Janeiro, acredita que os urbanistas da época tentaram fazer do local um grande centro comercial. Eliane Farias tem, há 18 anos, uma loja de persianas e películas automotivas e residenciais na 704 norte. Ela conta que foi atraída pelas antigas lojas de vendas de automóveis que ocupavam quase toda a extensão da W3 Norte até o início dos anos 2000:
— Depois [as lojas] saíram daqui e foram pra Cidade do Automóvel. Caiu bastante o movimento, já que a gente fazia bastante aplicação de película nos automóveis
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Durante a noite, as W3 e W4 Norte – que durante o dia são movimentadas pelo comércio e oficinas mecânicas – viram palco de prostituição e de diversos crimes. Frederico Flósculo acredita que as partes da cidade ambientalmente degradadas se tornam regiões que a própria população evita, o que colabora para que estas áreas sirvam para o crime.
— Uma coisa remete à outra. Se ninguém cuida, a marginalidade acaba cuidando. Aquilo ali nem parece Brasília. Parece um bairro desses países que vive em guerra
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Para o presidente do Creci-DF, a violência depende da localização. Se alguém quiser comprar ou alugar um imóvel, independente da localidade, ele indica que sejam feitas visitas em três turnos: manhã tarde e noite.
— Assim é possível verificar movimento escolar, comercial e também de segurança
Texto: Douglas Lemos
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