Empresas de shows passam por "xeque-mate"
Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
AP / APTurnê do cantor britânico Elton John deve passar entre fevereiro e março de 2013 em Porto Alegre,
Brasília e São Paulo; ingressos vão seguir patamar estrangeiro
Depois das dificuldades na venda de ingressos para as apresentações de Madonna e Lady Gaga, o mercado de entretenimento já fala em ajustes em 2013. As mudanças estratégicas vão desde negociações mais intensas para baixar o valor dos cachês dos artistas internacionais a um aumento no número de cidades das apresentações para diluir custos, tentando expandir para além do tradicional circuito Rio-São Paulo. As alterações já indicam uma possível queda no preço médio do ingresso em 2013.
"Nos últimos dois anos houve uma onda de bonança: real valorizado (isso é bom para shows cotados em dólar); excesso de crédito e o resto do mundo quebrado. Mas o cenário agora mudou: a economia anda de lado, o real foi desvalorizado e o consumidor está na ressaca do excesso de crédito que recebeu", avalia Leo Ganem, presidente da Geo Eventos.
O ano deu, de fato, alguns sinais de alerta. Alguns festivais foram cancelados, como o SWU, e as divas pop amargaram uma bilheteria abaixo do esperado.
Lady Gaga teve demanda de 40 mil pessoas no show do Rio, no Parque dos Atletas, menos da metade da capacidade do local, que é de 90 mil pessoas. Em São Paulo, foram 50 mil pessoas no Estádio do Morumbi, com capacidade para até 70 mil pessoas.
Já Madonna, que se apresentou nos mesmos locais, reuniu 67 mil pessoas no Rio; 58 mil em São Paulo, no primeiro dia, e 50 mil pessoas no segundo dia. Em Porto Alegre, uma exceção: vendeu todos os 43 mil ingressos, de acordo com a Time for Fun (T4F). Chegou a existir promoção de ingressos em São Paulo para a segunda noite de Madonna: o mais barato, de R$ 170 caiu para R$ 150.
Anteontem, a T4F comunicou em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que o resultado do quarto trimestre teria impacto negativo pelas performances abaixo do esperado. Pesou a desaceleração da economia e a desvalorização cambial de 20%.
As empresas de entretenimento tentam sair de um certo "xeque-mate". Reclamam que hoje a conta não fecha. Está caro trazer artistas, há avanço da meia-entrada e da concorrência, além de altos custos de logística para produção. Mas, apesar disso, já há algumas que notam negociações um pouco melhores.
Flavio Steiner, diretor-geral da Engage Eventos, do grupo RBS, afirma que há, ao longo dos últimos anos, um maior conhecimento do mercado de entretenimento brasileiro assim como um recuo na demanda por shows em outros países, e isso tem ajudado nas negociações.
A Engage não revela se isso já valeu para a parceria com a XYZ Live para trazer o cantor inglês Elton John, que tocará entre fevereiro e março de 2013. Mas há pistas de que a estratégia levou em consideração turnês mais longas e em cidades diferentes a fim de ter uma relação de custos e resultado melhor - ele se apresentará em Porto Alegre,
Brasília e São Paulo. Espera-se demanda de 20 mil pessoas no estádio Zequinha, em Porto Alegre, mas a capacidade tem limite para 18 mil.
Em Brasília, o Centro Internacional de Convenções pode receber 10 mil pessoas. Em São Paulo, cuja apresentação será no Jockey Clube, a expectativa é de 15 mil pessoas. Embora o local possa receber até 35 mil, a lotação será de 15 mil por causa de uma estrutura para público sentado.
Dentre as estratégias também se observa queda no preço médio do ingresso. O valor mais em conta para o show de Elton John sairá a US$ 70, próximo aos patamares de apresentação do mesmo tipo na Europa ou nos Estados Unidos. Nos últimos meses, os ingressos no Brasil (em dólar) estavam superando significativamente o de outros países. Um músico que atrai um mesmo perfil de público, como Eric Clapton, e que Steiner usa como comparação, veio ao Brasil em 2011 a um ingresso médio maior: de US$ 100.
Mesmo assim, apesar de algum recuo no tíquete médio, Elton John terá um tipo de ingresso a R$ 1 mil (área VIP, com direito a comidas e bebidas) no show que fará em São Paulo, ultrapassando os valores máximos de R$ 750 de Lady Gaga e R$ 850 de Madonna.
A cidade de
Brasília como local de apresentação chama a atenção. Mas parece seguir outros shows que também arriscaram novos locais. Neste ano, Paul McCartney tocou no Recife por dois dias (um dia lotado e outro teve cerca de metade dos ingressos vendido) e em Florianópolis, onde lotou o estádio do Avaí, com 28 mil pessoas. "Existe mercado, existe demanda, mas é preciso achar os nichos", diz Steiner.
Dentre as estratégias do CEO do Rock in Rio, Luis Justo, está a contratação de artistas que vão fazer uma turnê pós-evento, além de ampliar cada vez mais a edição em outros países. Assim, consegue fechar com o artista para tocar em uma "rede" de festivais, a cachês mais convidativos. Atualmente, além do Rio, há Rock in Rio em Lisboa e em Madri. Há rumores de que o México possa ser o próximo país a integrar a lista.
No Rio, apesar de um público menor esperado - a organização estabeleceu a lotação em 85 mil pessoas/dia em 2013 ante 100 mil pessoas/dia na edição de 2011 para "dar mais conforto" -, espera-se que mesmo assim o faturamento cresça (o percentual não foi revelado), ancorado nas atrações adicionais, como o parque de diversões.
A organização espera esgotar os ingressos. Dentre os artistas já anunciados estão Metallica, Iron Maiden, Bruce Springsteen e Ben Harper. Na pré-venda, teve um bom desempenho: 80 mil ingressos vendidos em 52 minutos. Em 2011, levou quatro dias para feito parecido.
Mas, por via das dúvidas, não se arrisca muito: o tíquete do Rock in Rio a partir de abril - quando recomeçam as vendas - terá o custo dos mesmos R$ 260 pelo qual fez a pré-venda em outubro.
Como fator positivo para a estratégia de 2013, a Geo Eventos, que traz o Lollapalooza, ganhou também mais poder de barganha. Serão quatro edições mundiais, uma a mais. Além dos Estados Unidos, Chile e Brasil, o festival estreia em Israel.
Também espera melhorar seu desempenho com a ampliação do roteiro pós-evento. Já sinalizou que o Rio deverá receber atrações do Lollapalooza.
O festival - de três dias contra dois em 2012 - está com metade dos ingressos vendida. Houve aumento de preços de um ano para outro, de R$ 280 para R$ 330. São esperadas 70 mil pessoas/dia, mesmo volume diário que teve na edição anterior.
O Sónar São Paulo, festival que trará nomes como Pet Shop Boys e The Roots em 2013, deve atrair pelo preço. Provavelmente vai manter o mesmo valor da edição passada: R$ 230 (inteira, antes do dia do evento) e R$ 250 (inteira, no dia do evento). A expectativa de público, por ora, é de manutenção: 30 mil pessoas, mesmo volume da edição anterior. "Por enquanto, não é hora de crescer, mas há um compromisso de longo prazo para consolidação da marca", diz Duda Magalhães, diretor-geral da Dream Factory.
Fonte:
http://www.valor.com.br/cultura/2936...#ixzz2Eni9z9Th