CCBB de Brasília recebe mostra do artista russo Wassily Kandinsky
Exposição com 150 peças pode ser vista gratuitamente até 12 de janeiro Obras fazem parte de acervo de nove museus e de coleções particulares.
Foto: Vianey Bentes/TV Globo
Quadro em exposição na mostra sobre o artista russo Wassily Kandinsky (veja mais imagens da exposição)
Brasília é a primeira cidade fora da Europa a receber uma exposição com obras do criador do abstracionismo, Wassily Kandinsky. Cerca de 150 peças, entre quadros, objetos, fotos, livros e cartas sobre o artista, seus contemporâneos e suas influências podem ser vistos gratuitamente entre esta quarta-feira (12) e o dia 12 de janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Até setembro de 2015, a mostra passa por Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.
As peças em exposição pertencem ao acervo de nove museus e de coleções particulares vindos da Rússia, Alemanha, Áustria, Inglaterra e França. Alguns dos principais itens são do Museu Estatal Russo de São Petersburgo. A organização da mostra também teve participação da Arte A Produções, responsável pela “Virada Russa”, realizada em 2009, no circuito do CCBB.
Mais do que apresentar obras do pintor russo, “Kandinsky – Tudo começa num ponto” oferece ao público a oportunidade de conhecer as referências de sua obra, como a relação entre arte e espiritualidade, a cultura popular no norte da Sibéria, o folclore russo, a música e os rituais xamânicos.
As peças em exposição estão divididas em três espaços, um deles interativo. Utilizando óculos especiais, o público pode conferir uma das obras do pintor se desmembrando de acordo com o movimento do visitante e emitindo sons. Também é possível ouvir a descrição das cores e de suas características.
Na exposição, há pinturas de todas as fases do pintor, ilustrações de contos populares, símbolos religiosos, séries de paisagens, roupas e tambores utilizados em rituais xamânicos, coleções de objetos de cerâmica e litogravuras. Além de Kandinsky, a mostra traz quadros de artistas contemporâneos, como a ex-mulher Gabriele Münter, Alexej Von Jawlensky , Mikhail Larionov, Pavel Filonov, Nikolai Kulbin e Aristarkh Lentulov.
Contexto
O objetivo dos curadores da mostra, Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, é fazer com que o espectador entenda vida e obra do pintor e também a relação com outros artistas e com a cultura de sua época. A ideia é compreender o contexto que ajudou na sua formação, dar um “mergulho no mundo que cercou e influenciou Kandinsky”.
Foto: Vianey Bentes/TV Globo
Obras de Kandinsky em exposição no CCBB
“A maior parte da exposição apresentada ao público brasileiro é dedicada justamente aos pormenores que explicam e completam o nosso conhecimento sobre Kandinsky”, afirma Evgenia Petrova. Segundo ela, a seleção dos trabalhos seguiu a biografia do artista até sua partida definitiva da Rússia, em 1922, as memórias, artigos e catálogos das exposições organizadas durante a vida do pintor, especialmente “O Cavaleiro Azul” e o “Salão de Izdebsky”.
Para o diretor-geral da exposição, Rodolfo de Athayde, entender o gênio criativo implica compreender a sensibilidade que marcou a história da arte no século XX. “Esta exposição apresenta o prólogo dessa história enriquecida, que é a arte moderna e contemporânea. O modo em que se forjou a passagem para a abstração, os recursos a partir dos quais a figuração deixou de ser a única via possível para representar os estados mais vitais do ser humano, e finalmente o novo caminho desbravado a partir dessa ruptura”.
A exposição também retrata Kandinsky como personagem poético e lírico e aborda momentos de descobertas ao longo de sua trajetória. Em um dos espaços, o público também pode ver cartas trocadas entre o pintor e o compositor erudito Arnold Schoenberg, criador do dodecafonismo – sistema de organização musical em que as 12 notas são tocadas sem que se siga as escalas por tons.
Depois de Brasília, a mostra “Kandinsky – Tudo começa num ponto” segue para o Rio de Janeiro, entre 27 de janeiro e 30 de março. São Paulo recebe o evento entre 18 de abril e 29 de junho. A exposição se despede do Brasil em Belo Horizonte, entre 21 de julho e 28 de setembro.
Kandinsky para crianças
Durante o evento, o CCBB Educativo oferece uma série de programas para as crianças, com o objetivo de levar ao público infantil um pouco do trabalho de Kandinsky e da importância de sua obra. A programação inclui atividades como músicas e histórias aos fins de semana. As escolas podem agendar visitas ao espaço também durante a semana.
Outra atração para as crianças é o livro que leva o mesmo nome da exposição. Escrita por Daniela Chindler e com ilustrações de Lula Palomanes, a publicação tem o intuito de traduzir para o universo infantil a história de Kandinsky, os principais momentos de sua biografia e os elementos mais relevantes de sua obra. O livro será distribuído gratuitamente durante o evento.
Artista
Nascido em Moscou, em 16 de dezembro de 1844, Wassaly Kandinsky formou-se em direito antes de iniciar sua vida como pintor. Uma visita a uma exposição de artistas impressionistas franceses e ao Teatro Bolshoi, onde assistiu à ópera Lohengrin, de Richard Wagner, despertaram o desejo de produzir arte.
Foto: Vianey Bentes/TV Globo
Peças que fazem referência ao xamanismo, presente na obra de Kandinsky, e quadros do artista russo em espaço do CCBB
Em 1896, ele se mudou para Munique, na Alemanha, onde iniciou o curso de pintura. Em 1900, ele ingressou na Academia de Artes de Munique, onde estudou com Franz Stuck. Foi neste período que conheceu a artista Gabriele Münter, com quem passou a viver até o início da 1ª Guerra Mundial.
Em 1911, Kandinsky e Franz Marc criaram o grupo Der Blaue Reiter (Cavaleiro Azul). O período em que viveu na Alemanha é considerado o de maior desenvolvimento da arte abstracionista do pintor. No ano seguinte, ele publicou “Do espiritual na arte”, a primeira fundamentação teórica da arte abstrata. Ele escreveu ainda um livro de memórias e uma coletânea de poesias com 55 litogravuras, ambos em 1913.
Foto: Vianey Bentes/TV Globo
Peça na exposição
No início da guerra, voltou para Moscou, já sem Gabriele. Participou de eventos culturais e políticos no período após a Revolução Russa. Casou-se com a filha de um general, em 1917, e cooperou com o comitê popular de educação, ensinando arte e auxiliando na reforma e na criação de museus, entre 1918 e 1921.
Kandinsky voltou à Alemanha em 1922. Em seguida, aceitou o convite de Walter Groupiuos e começou a lecionar na escola Bauhaus, onde permaneceu até 1932. Os 159 quadros pintados a óleo e as 300 aquarelas produzidos entre 1926 e 1933 se perderam depois que os nazistas declararam o artista “degenerado”.
Aos 67 anos, o pintor se mudou para a França. Ao lado da mulher, ele passou a viver em Neuilly-sur-Seine, perto de Paris. Foi a última morada de Kadinsky até sua morte, em 13 de dezembro de 1944.
http://g1.globo.com/distrito-federal...kandinsky.html