Atlantica planeja dobrar rede até 2017
O vice presidente de desenvolvimento da maior rede nacional de hotelaria interrompe a entrevista, durante almoço no restaurante do Radisson Cidade Jardim, na capital paulista. Diferentemente das outras cinco vezes em que o celular tocou, dessa vez Rafael Guaspari atende.
Do outro lado da linha, Patrícia Drummond, síndica dos proprietários dos mais de 293 quartos e suítes do Sheraton Barra Hotel & Suites. Após ouvir a interlocutora, o executivo desfaz o silêncio: "Fechado! A partir de 1º de janeiro de 2014, o Sheraton Barra passa a ser um Radisson", disse, referindo-se à marca de luxo do grupo americano Carlson.
O acordo fechado na semana passada, que muda o nome de um dos endereços mais tradicionais da hotelaria carioca, representa R$ 10 milhões em investimento - uma parte ínfima do projeto de R$ 3 bilhões que a Atlantica Hotels está tocando até 2017. Com recursos captados entre investidores individuais, a meta é aumentar a rede, de 78 a 159 hotéis administrados no país.
A oferta de quartos sobe de 12,7 mil para 21 mil. A importância desse empreendimento na avenida Lucio Costa, na Barra Da Tijuca, é simbólica, diz o executivo, por ser uma vitrine. O feito de tirar da Starwoods um hotel nessa disputada praça carioca de turismo é apontado pelo vice-presidente da Atlantica como prova de que o grupo tem apetite para cumprir a meta de dobrar de tamanho em menos de meia década.
"Existe uma demanda não apenas de novos empreendimentos, mas também de hotéis independentes que precisam de uma bandeira para ganhar escala comercial e de marketing", afirma Guaspari. "Nós temos uma diversidade maior que a nossa concorrência".
A síndica do condomínio proprietário do Sheraton Barra, Patrícia Drummond, diz que escolheu a Atlantica em detrimento da Starwood por causa do plano de negócios da rede. Procurado pelo Valor, o grupo Starwoods, que responde pela bandeira Sheraton, informou por meio da assessoria que não foi ainda comunicado oficialmente da troca de bandeiras na unidade da Barra da Tijuca.
Lançada no Brasil em 1996, com a abertura de uma franquia do Sleep Inn, em Varginha (SP), a Atlantica Hotels foi idealizada pelo americano Barry Conrad, ex-presidente da rede de fast-food Burger King. Ele pretendia explorar o potencial turístico do país. Mas um acidente aéreo matou, naquele mesmo ano, o idealizador do plano.
Paul Sistare, que já havia trabalhado com Conrad na Choice Hotel, assumiu o projeto, com mais dois investidores conhecidos no mercado brasileiro - Gregory Ryan, que foi franqueador da rede McDonald's no Brasil, e o ex-secretário americano do Tesouro Nicholas Brady, que atua por meio do Darby Emerging Markets Fund.
Desde então, a Atlantica chegou à marca de 78 hotéis e 12.774 apartamentos em 41 cidades, graças a contratos de representação com o Carlson Rezidor Hotel Group para as bandeiras Radisson, Park Inn by Radisson e Park Suítes; e com a Choice Hotels International (hotéis Sleep Inn, Comfort, Comfort Suites, Quality e Clarion), além das marcas Go Inn, Inn Style by Atlantica e by Atlantica de propriedade da própria Atlantica.
"Há outros empreendimentos que ganharão a marca Radisson no Brasil e, incluindo este do Rio de Janeiro, passaremos a contar com 10 unidades até 2014", disse o vice-presidente da Atlantica Hotels, detalhando parte dos 81 acordos assinados, entre hotéis que vão passar por conversão e novos empreendimentos. No início de agosto, duas semanas antes de acertar a troca da marca do Sheraton Barra no Rio, a Atlantica fechou outro acordo para colocar a bandeira Radisson, do grupo Carlson, em um hotel de luxo independente em Porto Alegre.
"Por meio de acordos já celebrados, os investimentos que nossos empreendimentos vão demandar estão estimados em R$ 3 bilhões", disse Guaspari. Em 2013, estão previstas ainda as aberturas do Quality Hotel Pampulha, em novembro, e do
Clarion Brasília, em setembro. "O cenário econômico permite ainda espaço para crescimento da demanda em cidades em que a oferta ainda não foi completada", diz Guaspari.
O vice presidente da Atlantica afirma que os investimentos, até 2017, serão realizados por meio do sistema de "condo hotel", em que pequenos e médios investidores adquirem unidades habitacionais, além de grandes investidores, que ficam com partes do empreendimento total. Segundo Guaspari, a margem de retorno para esses investidores varia entre 0,6% e 0,8% ao mês.
"Mas temos percebido que está aumentando a participação dos investidores que assumem todo o empreendimento", disse o executivo. O rendimento menor das aplicações financeiras e o desempenho da bolsa têm levado mais investidores para o setor de hotelaria, disse Guaspari, citando como exemplo o caso recente do empreendimento que o grupo está erguendo em Cuiabá.
A Atlantica é uma empresa de capital fechado e não informa detalhes do balanço. Sua receita acumulada até junho deste ano é de R$ 324,8 milhões, com avanço de 7,8% em relação aos valores apurados no mesmo período de 2012. "Acreditamos que podemos continuar crescendo nesse ritmo, de 7% ao ano", disse o executivo, que reconhece alguns desafios no horizonte.
O risco da superoferta é um deles. "Algumas praças poderão mesmo sofrer com excesso de oferta após 2016, mesmo que a demanda suba e um ponto de equilíbrio seja formado novamente mais adiante", disse, citando os casos da Barra da Tijuca, na capital fluminense, Curitiba e Belo Horizonte.
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