Iphan pensa em tombar área da Torre Digital para conter a ação de grileiros
Região é valorizada por causa da localização
A Torre de TV Digital fica em Sobradinho e nas proximidades de grandes parcelamentos, como o Império dos Nobres e o Condomínio RK
O mais novo ponto turístico do Distrito Federal está em uma região valorizada, alvo frequente de tentativas de grilagem. A Torre de TV Digital, prevista para ser inaugurada em 15 de dezembro, foi construída ao lado de extensos espaços vazios, com localização cobiçada e vista nobre. Do alto do monumento e mesmo a partir dos terrenos próximos, é possível enxergar o Lago Paranoá e o Plano Piloto. Preocupado com a possibilidade de invasões, que poderiam desvirtuar os arredores, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) quer fazer uma legislação para incluir o monumento e as áreas vizinhas no rol de bens tombados do Distrito Federal.
A Torre de TV Digital fica em Sobradinho, bem próxima ao Balão do Colorado (veja arte). A região é alvo de invasões há pelo menos duas décadas, quando surgiram os primeiros condomínios irregulares. Vizinho ao monumento, estão alguns grandes parcelamentos, como o Império dos Nobres e o Condomínio RK. Também há áreas vazias, onde grileiros tentam há vários anos construir loteamentos, mas a fiscalização do governo conseguiu frear a ação dos invasores.
O superintendente do Iphan, Alfredo Gastal, explica que está em contato com representantes do GDF para debater o tombamento da Torre de TV Digital e de seus arredores. O órgão tem o poder de criar uma legislação para tombar o monumento, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Mas, para incluir na área preservada terras em volta do edifício, o Iphan precisa do apoio do governo local. “A torre é uma obra do Oscar, com arquitetura única. Seria um absurdo permitir que a área em volta dela se tornasse uma invasão ou uma feira livre cheia de barracas”, comenta.
Para Gastal, o ideal seria manter uma área vazia, com tamanho entre um e três hectares ao redor da Torre de TV Digital. “Poderia haver cafés, pequenos restaurantes e amplos jardins, com espaço para piqueniques. O nosso objetivo é fazer com que se torne uma grande área de turismo e lazer e que represente um atrativo para os moradores de Brasília. Não precisamos de mais um local de especulação imobiliária”, avalia o superintendente do Iphan.
Loteamentos
O projeto do Iphan depende de autorização do GDF. Não há lotes particulares próximo à torre, apenas terras públicas, a maioria de propriedade da Terracap. A Torre de TV Digital está dentro do loteamento Taquari 1, Trecho 2. Além do terreno onde foi construído o monumento, há mais de mil lotes públicos registrados em cartório. Esses imóveis poderão ser vendidos no futuro, em licitações públicas organizadas pela companhia.
Para vender esses terrenos, falta o aval do Instituto Brasília Ambiental. O projeto de loteamento da área tem mais de oito anos, e o Ibram exigiu que as plantas de drenagem pluvial fossem refeitas. Com as pendências ambientais solucionadas, a Terracap poderá vender os lotes. Mas o GDF poderá fazer um novo estudo sobre a destinação dos terrenos, para decidir se serão licitados ou mantidos vazios.
A menos de três quilômetros da Torre de TV Digital também está um extenso espaço de terras públicas, onde grileiros rondam em busca de oportunidades. As terras ficam entre Sobradinho e o Lago Norte, e empreendedores tentaram construir no local o que seria o Condomínio Tomahawk. Pelo menos 2 mil lotes foram vendidos ilegalmente. Por isso, a Terracap construiu uma guarita no local e mantém vigilância 24 horas. Ainda assim, é comum encontrar piquetes com a logomarca da empresa caídos, além de cercas arrancadas. No local, a companhia fará o Setor Taquari 2, onde haverá 1,3 mil lotes.
Enquete: Você é a favor do tombamento da área ao redor da Torre Digital?
Aposta em turismo
Para evitar a pressão imobiliária na região da Torre Digital, o governo aposta na valorização do turismo. Além da arquitetura diferenciada e da vista panorâmica do monumento, haverá espaços de convivência, como cafés, no alto do edifício. Mas ainda há dificuldades a serem vencidas, como os problemas de acesso. Há poucas opções de ônibus regulares que passam pelo local, e o GDF estima que só seis meses depois da inauguração haverá movimentação de turistas.
O secretário adjunto de Turismo, Geraldo Bentes, conta que o fato de a torre ter sido projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer também representa um atrativo para os visitantes. “Mas é preciso observar uma série de coisas, como a quantidade de vagas para estacionamento e o acesso. Já estamos em contato com agências de viagens e empresas de receptivo para que elas incluam a Torre Digital em seus roteiros. Mas isso deve levar pelo menos cerca de seis meses para se consolidar”, explica.
A inauguração da Torre Digital, marcada para o dia do aniversário de Oscar Niemeyer, foi adiada três vezes. A primeira previsão de abertura era para o aniversário de Brasília do ano passado. Mas, 20 meses depois, ainda há operários trabalhando no local. Ontem, os funcionários colocavam os pisos internos.
Obras
A diretora de Edificações da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Maruska Holanda, explica que ainda falta a conclusão dos banheiros, da rampa de acesso e do espelho d’água, além da urbanização próxima à torre. Ela conta que o atraso ocorreu por conta de problemas administrativos. “O contrato teve que ser analisado pela Procuradoria do DF e pelo Tribunal de Contas. Tudo isso atrasa porque é preciso aguardar os pareceres”, afirma Maruska. As obras na parte externa, que incluem a construção dos estacionamentos, não serão concluídas antes do dia 15.
A Torre Digital já custou R$ 68 milhões aos cofres públicos, mas ainda será preciso gastar mais R$ 6,5 milhões para o término dos trabalhos e para fazer a urbanização das áreas de acesso. O monumento, também conhecido como Flor do Cerrado, consumiu 12 mil metros cúbicos de concreto, além de mil toneladas de ferro.
http://www.correiobraziliense.com.br...rileiros.shtml