Conflito por área nobre em Brasília deixa uma pessoa ferida
Empresa pretende construir 84 apartamentos na área reivindicada por índios.
Comunidade indígena reivindica área de 50 hectares no Noroeste.
Um conflito entre índios, estudantes e seguranças de uma construtora pela posse de uma área em Brasília deixou ao menos uma pessoa ferida na manhã desta quinta-feira (13). Os índios e a construtora disputam a posse da área, uma das mais valorizadas do Distrito Federal, onde o metro quadrado construído, vendido na planta, supera R$ 10 mil. A ação foi acompanhada pela Polícia Militar. O ferido foi levado para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), segundo os Bombeiros, mas não havia informação sobre o estado de saúde dele.

Policiais e seguranças na manhã desta quinta-feira (12) em área disputada entre construtora e índios no Noroeste, em Brasília
O confronto teve início após funcionários da construtora Brasal chegarem para fazer a limpeza do terreno, onde a empresa pretende construir um edifício com 72 apartamentos de três e quatro quartos e 12 duplex com cobertura privativa, cujas áreas vão de 126 m² a 325 m².
Índios, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) e ambientalistas contrários à obra reagiram à ocupação do terreno, dando início ao conflito.
“Querem transformar o santuário [dos índios] em pracinha e em zoológico. Isso é absurdo. Essa obra está a menos de 60 metros do santuário”, disse o estudante de Letras da UnB Diogo Ramalho, que está no local desde a chegada dos funcionários da construtora.
Ele afirma ter visto dois índios serem espancados e algemados após reagirem à ocupação e que duas mulheres que participavam do protesto foram chutadas no chão por seguranças da construtora. A Brasal informou desconhecer as supostas agressões praticadas por seguranças. De acordo com nota divulgada pela empresa, os índios não têm direito à área pleiteada.
“A comunidade indígena vizinha ao bairro tentou recorrer à Justiça para pleitear ampliação da área destinada a esta comunidade de 4,18 ha, para 50,00 ha. Porém, a decisão final da Juíza Federal Clara da Mota Santos, publicada no Diário Oficial no dia 16 de Setembro de 2011 determina que a comunidade deve se restringir à área de 4.1815 ha iniciais, o que exclui a projeção do Reserva Especial da área questionada”, diz trecho da nota.
“Não precisamos de liminar porque a posse sempre foi outorgada. Estamos exercendo o direito de propriedade ao demarcar o lote”, disse a assessora jurídica da Brasal Andréa Moraes Mourão.
O diretor da empresa, Dilton Junqueira, não descartou a possibilidade de novos conflitos. “O poder público tem efetivamente que entrar no caso. Se não entrar, vai ter conflito. Teria que ter gente aqui da Funai [Fundação Nacional do Índio] e da Terracap [que vendeu a área]. Estamos entrando no que é nosso”, afirmou.
Disputa judicial
Os índios reivindicam uma área de 50 hectares no Noroeste e questionaram no Tribunal Regional Federal da 1ª Região a isenção de outra juíza, Candice Lavocat Galvão Jobim, da 2ª Vara da Seção Judiciária do DF, para julgar uma ação civil pública sobre a posse do terreno.
Candice é irmã de Marcelo Galvão, procurador-geral do DF durante a gestão de José Roberto Arruda (2006-2010). Antes de ocupar o cargo, ele era consultor jurídico do GDF, vinculado ao gabinete do vice-governador e, segundo o processo proposto pelos índios, teria participado de estudos de implantação do Noroeste.
Na última quarta-feira (5), foi cassada a liminar que favorecia a permanência da comunidade indígena Fulni-o Tapuya na área. A decisão foi publicada no Diário Judicial no dia 6 e divulgada nesta terça-feira (11).
http://g1.globo.com/distrito-federal...oa-ferida.html