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Old Posted Jan 4, 2012, 12:06 AM
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Mesmo com modificações, Centro histórico de Planaltina resiste ao tempo



O casarão da Dona Nigrinha, localizado na Rua 13 de Maio de Planaltina, acabou colocado à venda: deterioração


A paisagem bucólica de Planaltina se transformou com o passar do tempo. A transferência da capital para o Planalto Central trouxe o desenvolvimento à região, mas modificou a cidade antiga com ar interiorano. Carregadas de histórias, as casas de adobe saíram de cena e deram lugar a construções modernas e vultosas. As fotos guardam a única lembrança dos casarões coloniais que abrigaram os primeiros moradores de Planaltina. Mais de 150 anos depois, porém, algumas edificações ainda resistem à ação do tempo e do descaso.

Na Rua Coronel João Quirino, no Setor Tradicional de Planaltina, a modernidade venceu a preservação da história. O casarão onde funcionava o antigo hotel Ouro Fino foi derrubado no fim de 2009 para a construção de um outro prédio. Os moradores mais resistentes à transformação denunciaram o caso. “Os proprietários destroem as casas aos poucos, longe dos olhos de todo mundo e quando a gente vê não sobrou mais nada”, lamentou a presidente da Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina, Simone dos Santos Macedo.

Já o casarão da dona Nigrinha, localizado na Rua 13 de Maio, resiste em pé à ação do tempo. Ele pertencia ao madeireiro Zé Baiano e à esposa, que deu nome à construção. Após a morte do casal, o imóvel ficou para uma filha de criação, que tenta vendê-lo. Para evitar uma nova destruição, Simone Macedo procura um comprador interessado em preservá-lo. “Ele fica num ponto estratégico, entre duas praças, mas está bastante deteriorado. Há um projeto de restauro feito por um ex-aluno da Universidade de Brasília (UnB) e já sugerimos que a própria instituição compre a casa”, adiantou.

Cuidado
A preservação dos casarões depende da vontade dos donos. A antiga casa do avô paterno da professora aposentada Marilda Guimarães, 68 anos, chama a atenção de quem passa na esquina da ruas Hugo Lobo e 13 de Maio. Em 2007, o imóvel passou por uma reforma e Marilda optou por manter a estrutura original. “Nossa família é muito ligada à preservação, senti que tinha a obrigação de fazer isso”, disse. O local serviu de moradia para o delegado e avô da professora na primeira metade do século 20, Antônio Gonçalves Guimarães, e depois como coletoria federal, onde os impostos eram cobrados. “No início, enfrentamos resistência dos trabalhadores, que queriam usar materiais novos, mas precisei mostrar a eles o valor da restauração”, contou Marilda.

E foi esse cuidado que despertou a atenção da professora Maria Dalva Trivellato, 54 anos. Ela se mudou para Brasília há três meses e, desde dezembro, vive no imóvel que já foi do delegado da cidade. “Me encantei com a fachada e vi que estava para alugar. Pensei em morar aqui na hora”, lembrou. Um detalhe na parede da garagem desperta a curiosidade de quem a visita. Marilda preservou um pedaço da parede, feita de barro, e colocou uma identificação ao lado. “Achei muito interessante esse cuidado, gosto muito desse trabalho. Quando morava em Minas Gerais, meu passeio era visitar a cidade histórica de Ouro Preto”, contou Maria Dalva.

A dona do hotel O Casarão, Geralda Maria Vieira, 81 anos, também resistiu à ação do tempo. Ela se mudou para Planaltina há 51 anos, comprou o imóvel e o mantém até hoje. “A cidade cresceu muito, gosto do progresso, mas também de proteger essa área que nos traz muitas lembranças”, defendeu. A casa fica na praça Coronel Salviano Monteiro, no Setor Tradicional, próximo a outras edificações que ainda estão de pé como os casarões da dona Morena e da dona Nilda, a antiga Prefeitura e a Casa de Câmara e Cadeia. Até um pé de jenipapo está na lista de tombamento da associação. “A gente ouve falar que ele serviu como a primeira cadeia pública da região, queremos tombá-lo e recuperar a praça também”, explicou Simone.

Dificuldades
Segundo o superintende do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Distrito Federal (Iphan-DF), Alfredo Gastal, a grande dificuldade do governo é proteger o patrimônio da destruição que ocorre atrás dos muros. “A maioria desses prédios é particular, o que dificulta o processo de preservação”, explicou. Ele desaprova o descaso com o Setor Tradicional, mas justifica que o Iphan-DF também não tem estrutura para resolver o problema da região. “Isso é complicado porque exige uma estrutura que não temos, mas estamos abertos a discussões. Esse patrimônio merece ser preservado e o GDF pode fazer isso”, sugeriu.

O diretor de preservação da Secretaria de Cultura, Jonatas Barreto, explicou que somente o Museu Histórico de Planaltina e a Igreja de São Sebastião são tombadas pelo Governo do Distrito Federal, e o órgão não pode intervir nas edificações que não são protegidas. “Precisamos começar um processo de tombamento que é longo, precisa de muitos estudos e aprovações. Sabemos da descaracterização, mas estamos de mãos atadas pela lei. Só podemos agir nas imediações se houver interferência das edificações tombadas”, explicou. Ele defende a educação patrimônio entre a população para evitar mais destruições.

Conservação
O grupo surgiu em 2007 após uma parte da estrutura da igreja de São Sebastião ser destruída. O episódio despertou em alguns moradores a necessidade de preservar a cidade que guarda muitas histórias da ocupação do Planalto Central. Desde a fundação,
os membros da associação trabalham para defender a preservação e o tombamento do patrimônio histórico.







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