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Old Posted Apr 4, 2012, 6:03 PM
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No papel, muitos planos para turbinar a indústria

Pelo menos as promessas são animadoras. Os responsáveis por estimular o desenvolvimento econômico do Distrito Federal têm na ponta da língua o que fazer para aproveitar o potencial da indústria na próxima década. Entre as diretrizes, algumas em elaboração e outras somente no campo das ideias, há programas de incentivo, planos de atração de empresas e consolidação de áreas destinadas à consolidação do parque fabril. Neste último dia da série sobre a nova indústria que surge em Brasília, o Correio mostra as ações do poder público para diversificar a economia local.

O governo pretende anunciar, ainda este ano, a chegada ao território candango de mais uma indústria farmacêutica. A empresa, cujo nome é mantido em sigilo para não atrapalhar as negociações, pertence a um dos maiores grupos nacionais do ramo. A implantação está prevista para o Polo JK, em Santa Maria. Até o fim de 2014, outras quatro fábricas de grande porte — dos segmentos alimentício e de tecnologia da informação — devem confirmar instalação na capital do país.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do DF teve três titulares em 15 meses de governo Agnelo Queiroz (PT). Todas as gestões reconheceram a histórica ausência de políticas específicas para a indústria. A atual equipe trabalha nos bastidores para atrair investimentos milionários a curto prazo e para aprovar o quanto antes o programa Incentivo ao Desenvolvimento Econômico, Ambiental e Social (Ideas), que substituirá o atrapalhado Pró-DF II, alvo de especulação imobiliária e de diversas irregularidades.

O Ideas vai priorizar a indústria na definição dos benefícios, deixando em segundo lugar os serviços, a força motriz do setor produtivo local. Uma área total que ultrapassa 2 milhões de metros quadrados, espalhada por todo o DF, estaria disponível para abrigar novas fábricas. A questão da titularidade das terras e as preocupações ambientais ainda travam a liberação de boa parte desses espaços. O secretário adjunto da SDE, Expedito Veloso, adiantou que terrenos poderão ser doados para seduzir grandes empresas.

Geralmente do lado perdedor na disputa por investimentos com o vizinho Goiás, o DF promete vencer algumas brigas nos próximos anos. O novo programa de desenvolvimento contemplará incentivos fiscais vinculados ao faturamento das empresas, e não ao tamanho do recolhimento de impostos. Funcionários terceirizados que atuarem na empresa entrarão na conta da criação de empregos. E, para conter a especulação, os contratos vão estipular um prazo de cinco anos para a entrega da escritura e, com ela, a possibilidade de venda do terreno.

O secretário adjunto atribui a pífia participação da indústria na economia local às limitações do espaço físico do DF. Ele concorda com a necessidade de o governo criar mais incentivos voltados para o setor, mas pondera que um possível colapso do mercado de trabalho provocado pela falta de uma política específica está muito distante. “Novas opções de emprego e renda são importantes por conta do constante fluxo migratório, mas a administração pública continuará tendo, por muito tempo, um maior peso na nossa economia”, sustenta Veloso.

Parque Digital
Após quase 12 anos engavetado, o projeto Parque Tecnológico Cidade Digital tem chances de sair do papel ainda em 2012, com o lançamento do edital de licitação do lote que abrigará as empresas. A concretização do espaço, resultado de uma parceria público-privada, pode revolucionar a economia local e tornar Brasília referência da indústria de tecnologia da informação. “Será como a Zona Franca de Manaus”, compara o secretário de Ciência e Tecnologia do DF, Cristiano Araújo. Ele acredita na criação de 20 mil empregos diretos nos próximos cinco anos.

Por ora, a única obra em andamento no terreno de 123 hectares, próximo à Granja do Torno, é a do datacenter Banco do Brasil-Caixa Econômica Federal, cuja inauguração deve ocorrer ainda este semestre, segundo Araújo. Quando começar a virar realidade, o parque terá a meta de atrair, até 2014, cinco laboratórios de pesquisa e desenvolvimento.


Análise da notícia
Potencial inexplorado

Não dá mais para a indústria brasiliense ficar entre o chororô dos empresários e as promessas das autoridades. A diversificação da economia local se faz urgente. Enquanto no restante do país se discute o risco de desindustrialização, o parque fabril do DF exibe potencial de crescimento, jamais explorado. Com posição geográfica privilegiada e poder de consumo invejável, Brasília aguarda um olhar cuidadoso para despontar como modelo de desenvolvimento moderno, reduto de chamadas indústrias limpas. A intenção não é desmerecer o peso do funcionalismo público na atividade. Trata-se de oferecer alternativas para o agravamento de problemas sociais e dar mais vida à capital brasileira.


Três perguntas para - Marcelo Dourado

Titular da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco)

Por que a industrialização do Entorno não se concretiza?
Porque a região, por incrível que pareça, é terra de ninguém. O DF acha que os municípios são de responsabilidade de Goiás, e vice-versa. E o governo federal fica assistindo ao jogo de empurra. Não existe integração.

O DF se acomodou com o peso do funcionalismo na economia?
Acredito que sim. Mas o que mais justifica a falta de incentivos para o setor é a questão do perfil. Partiu-se do princípio de que Brasília não tem perfil para a indústria.

Como mudar isso?
O Entorno é a solução, e não o problema da economia do DF. O governo local precisa de uma vez por todas se convencer de que os problemas de hoje serão resolvidos a partir da integração com os municípios vizinhos.

Algo de diferente vai acontecer na próxima década?
Sou otimista. Aposto, principalmente, no desenvolvimento às margens da BR-060. O eixo Brasília-Anápolis-Goiânia tem uma força econômica impressionante. Isso já é uma realidade. Faltam infraestrutura e logística, mas o avanço da região é um caminho sem volta.

Ações para a sustentabilidade econômica do Distrito Federal

Por José Ricardo da Costa e Silva
Raul Luis Dusi
Publicação: 04/04/2012 02:00
Projetada inicialmente para abrigar o centro administrativo da nação, o Distrito Federal conta hoje com mais de 2,6 milhões de habitantes, que já não podem ser alocados e sustentados apenas pela administração pública. Já existe alguma diversificação na sua atividade econômica, mas a máquina propulsora da economia de Brasília continua sendo majoritariamente os serviços ligados à administração pública. Boa parte do emprego está voltada para a área de serviços ou da construção civil, que continuam sendo subordinados à demanda de setores, ou trabalhadores, da administração pública.

A diversificação mais imediata e mais fácil é na área de serviços, que é intensiva em mão de obra e necessita de pouco capital. Embora esse setor da economia não deva ser desprezado, ele não terá força e dinâmica para fazer a atividade econômica do DF deixar de ser exclusivamente satélite à administração pública. A atividade do governo tende a ser contracíclica, crescendo mais quando há redução da renda no país. Por isso, ao contrário do que ocorre no resto do Brasil, quanto mais cresce a renda per capita no DF, maior sua taxa de desemprego, pois este aumento de renda está vinculado ao comportamento salarial do setor público, que não se reproduz no ciclo econômico da capital.

A alternativa econômica que pode ganhar maturidade e ter voo próprio, com dinâmica relacionada à economia do país, é o investimento industrial. Sua expansão neste momento inicial deve estar ligada a setores industriais que já existam, gerando uma integração maior na indústria existente, como a expansão do ramo de insumos para a construção civil. Isso permitirá o aumento do emprego e do grau de industrialização. Os passos seguintes necessitarão um investimento maior na abertura de mercados pouco explorados no DF, mas intensivos no uso da mão de obra, tais como a indústria de vestuário de alta costura, a de alimentos preparados com características que atendam à demanda crescente por produtos mais naturais, com pouco ou nenhum conservante, e para as pessoas de idade mais avançada.

É interessante também o investimento em áreas de aproveitamento de resíduos sólidos, assim como na indústria gráfica e mobiliária. O foco deve ser na indústria leve que aproveite posição central do DF, que traz ganhos de logística. O importante deste tipo de investimento é que, embora inicialmente agregada a mercados locais, ou integrada a indústrias já existentes que dependem do mercado local, podem se expandir e conquistar novos horizontes, fora do quadrilátero do Distrito Federal. Essa seria a melhor forma de industrializar a região de forma a amenizar o ciclo econômico da administração pública, permitindo maior estabilidade no emprego e, consequentemente, redução nos problemas sociais. Existem recursos de fundos públicos para estimular as iniciativas. Brasília será outra cidade no dia em que seus filhos almejarem trabalhar na indústria, ou virar um empreendedor, ao invés de um empregado público.


José Ricardo da Costa e Silva, economista e professor do Ibmec Brasília

Raul Luis Dusi, coordenador acadêmico da pós-graduação em gestão pública do Instituto de Gestão, Economia e Políticas Públicas
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