Smithsonian quer colaborar com museu afrodescendente brasileiro
Por Claudia Altschuller, especial para o blog de Ancelmo Gois
A Smithsonian Institution -- entidade americana que administra o maior número de museus no mundo -- vai colaborar com o projeto do Museu de Memória e Cultura Afrodescendente, que está sendo criado pelo Ministério da Cultura.
A parceria foi anunciada em workshop na Casa de Rui Barbosa, no Rio. Os EUA também estão criando seu primeiro museu afrodescendente nacional.
A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) recebeu semana passada um workshop com a finalidade de estreitar o intercâmbio entre o Museu de Memória e Cultura Afrodescendente (Brasília) e o National Museum of African American History e Culture (Washington). O Brasil e os Estados Unidos estão concebendo duas instituições federais com temáticas semelhantes em suas capitais.
Na abertura do workshop, o historiador Manolo Florentino falou sobre comércio transatlântico de escravos: “Trata-se do maior movimento migratório compulsório antes do século XX. Foram traficadas 12 milhões de pessoas entre os séculos XV e XIX”, explicou. Foram 35 mil viagens entre 1501 a 1867, para o tráfico de escravos. O professor disse que a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos tem em seu acervo depoimento de 11 mil ex-escravos . No Brasil existem apenas 10 entrevistas para consulta.
Em seguida, o historiador apresentou os quatro módulos do Museu de Memória e Cultura Afrodescendente: “Da África até os séculos XV e XIX”, “De Angolas, Congos e Minas a Africanos: o tráfico de escravos para as Américas e o Brasil”, “No Brasil” e “Pós 1888”. O museu, que será construído em terreno que pertence atualmente à Fundação Cultural Palmares, contará com recursos tecnológicos que possibilitarão aos visitantes uma experiência diferenciada; intensa utilização de elementos de multimídia e ferramentas para uso de conteúdo virtual. O espaço será um Centro de Referência da Cultura Negra onde o visitante poderá conhecer a trajetória dos negros no Brasil e reconhecer a importância deles na construção da identidade cultural do País. A concepção do Museu deve unir esforços de todas as secretarias e instituições vinculadas ao Ministério da Cultura
A antropóloga Deborah L. Mack, que está envolvida no projeto do National Museum of African American History e Culture há 18 meses, falou sobre seu trabalho:
-- Percorremos o país escutando as comunidades, visitando acervos institucionais e particulares. Vamos incluir no museu histórias reais de pessoas comuns porque traz um aspecto mais realista ao nosso trabalho -- explicou a pesquisadora.
O presidente do Ibram, Angelo Oswaldo, disse que aqui no Brasil a equipe do novo museu está recolhendo depoimentos e descobrindo coleções desde o final do ano passado.
-- Além do museu de Brasília, desejamos também enriquecer outros já existentes relacionados à cultura afro -- explicou.
Angelo Oswaldo citou o Museu da Abolição em Recife, um casarão com fachada de azulejo que funciona na residência do abolicionista João Alfredo.
Molly Fannon, também da Smithsonian Institution, reforçou a importância do intercâmbio entre os dois países: “Estamos honrados por estar aqui. Queremos debater, aprender com vocês. Vamos apoiar qualquer tipo de colaboração com vocês”, afirmou.
Estiveram presentes, entre outros, três dirigentes instituições do sistema MinC ( Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra, Ibram, Angelo Oswaldo, e Fundação Casa de Rui Barbosa, Manolo Florentino), a adida-cultural da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Susan Bell, e representantes de museus norte-americanos que participavam do 23º ICOM no Rio de Janeiro- Conferência Geral Trienal do Conselho Internacional de Museus (Jay A. Levenson - The Museum of Modern Art New York/ MoMA-, Joshua M. Gorman, Anacosha Museum Washington, Deborah L. Mack, Elizabeth Duggal e Molly Fannon --- Smithsonian Institution- Washington).
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